UMA NOVA FÁBRICA DE CULTURA, ARTES E EVENTOS

UMA NOVA FÁBRICA DE CULTURA, ARTES E EVENTOS

Centro de Memória do Trabalhador será gestionado pela Prefeitura de Contagem e pelo Instituto Periférico e promete se tornar um aglutinador cultural de toda a região metropolitana de BH


“Nunca ouvi falar”. A frase é quase unânime entre os moradores de Contagem, cidade localizada na região metropolitana de Belo Horizonte, quando questionados sobre o Espaço Cultural Centro de Memória do Trabalhador. Apesar do desconhecimento, é bastante comum a curiosidade de quem trafega pela Cidade Industrial Juventino Dias sobre uma fábrica desativada situada entre as torres e mais torres de prédios que cortam a paisagem em frente ao Itaú Power Shopping. A realidade dessa estrutura — que tem nome, função e história —, a partir de agora, tende a mudar significativamente, conforme adiantado por Marcelo Bones, Subsecretário de Cultura da Prefeitura de Contagem, à Viva Grande BH.

Marcelo Bones – Secretário interino de Cultura da Prefeitura de Contagem

“O nosso objetivo é fazer do Centro de Memória do Trabalhador uma referência na região metropolitana. Ao fazer isso, a gente coloca a produção cultural e artística de Contagem em contato com toda a região metropolitana, porque, ao abrigar eventos que vêm de fora da cidade, a gente capacita a produção do município para circular por outras cidades, por Minas Gerais e pelo Brasil. Então, o Espaço Cultural terá o papel de duas vias: o de receber e também o de catapultar a produção feita em Contagem”, garantiu Bones.

Para tirar o Centro de Memória do Trabalhador da UTI, assim como para torná-lo um protagonista entre os moradores da região metropolitana, a Prefeitura de Contagem lançou, em maio deste ano, um edital para selecionar uma Organização da Sociedade Civil (OSC) para fazer a co-gestão do espaço. O processo, que faz parte do Marco Regulatório das Organizações da Sociedade Civil (MROSC), foi inédito na cidade e contou com a participação de vários setores, como da Secretaria de Administração e da Procuradoria do Município. Entidades de todo o Estado de Minas Gerais puderam participar da concorrência, e a organização selecionada foi a Associação dos Amigos do Centro de Cultura Belo Horizonte (AMICULT), mais conhecida pelo nome fantasia: Instituto Periférico.

“A escolha desse modelo de gestão foi exatamente por ele não ser uma terceirização, mas sim uma co-gestão do espaço”, pontua Bones. De acordo com o subsecretário, a organização selecionada vai trabalhar lado a lado com a prefeitura. Inclusive, a entidade entregou “uma proposta de trabalho muito legal”, completa ele, alertando que, antes de a entidade assumir a co-gestão, o espaço será revitalizado, restaurado e passará por obras de reestruturação. “Estamos em negociação com uma empresa que vai fazer a recuperação do espaço físico. Será feita essa recuperação e, quando estiver pronto, o Instituto Periférico assume a coordenação das atividades”, explica.

Gabriela Santoro – Diretora presidente do Instituto Periférico.

Para Gabriela Santoro, diretora-presidente do Instituto Periférico, a missão é grande, mas, com certeza, a história do Centro de Memória será outra de agora em diante. “Estamos entusiasmados com o desafio proposto pela prefeitura de tornar o equipamento um centro cultural de referência para a região metropolitana de BH”, pontua. “Apostamos na sinergia com as políticas públicas implementadas pelo município em abrigar as iniciativas de artistas, grupos e coletivos artísticos e culturais da cidade, da região metropolitana e de todo o país, e com a iniciativa privada. Esta parceria, que visa construir e consolidar uma proposta coletiva entre os entes público e privado, será pautada pela participação social dos agentes culturais da cidade”, completa ela.

No plano de trabalho para o Centro de Memória, conforme adiantado por Bones, está uma biblioteca, um café (área de convivência), espaços para exposições, formações e, ainda, atividades que englobam teatro, circo, dança e educação ambiental. “O Centro de Memória está colado em um parque que é muito bonito. Por isso, estamos fazendo a unificação desse projeto com um plano ambiental. Assim, vamos ter atividades de educação ambiental ligadas às atividades culturais e artísticas. Estamos fazendo essa costura”, entrega.

Gabriela, à revista Viva Grande BH, explica o caminho que será traçado pelo Instituto Periférico. “Nós trabalhamos com o conceito de espaço cultural multiuso. Isso decorre de grandes cinco vocações em potencial identificadas no equipamento: como centro de memória (do trabalhador, da indústria, da história de Contagem); centro de cultura, que vai abrigar intensa programação de atividades, eventos e o desenvolvimento de projetos ligados à música, teatro, literatura, artes plásticas, arte urbana e outras expressões culturais e linguagens artísticas; centro de eventos, que poderá sediar feiras, congressos, seminários e outras reuniões de caráter corporativo ou público; centro de formação e capacitação, que promoverá cursos, oficinas e outras iniciativas educativas ligadas à cultura, à tecnologia e à economia criativa; e um centro de educação ambiental, direcionado à pesquisa na área e à promoção de ações educativas que incentivem reflexões sobre a sustentabilidade e à proteção do meio ambiente”, adianta a diretora-presidente da associação, que nasceu em 1999 e que, entre os trabalhos mais recentes, realizou a Virada Cultural de Belo Horizonte.

Localizado em um ponto estratégico de Contagem, entre os bairros Eldorado, JK e Cidade Industrial, além de estar situado próximo à estação de metrô, o Centro de Memória do Trabalhador, finalmente, ganhou um fôlego de vida e deverá sair do estado de coma já no começo de 2023. Assim que estiver de pé, recuperado após anos e mais anos de abandono e descaso, ele promete ser palco de grandes e importantes eventos. “Estamos trabalhando para que o Centro de Memória do Trabalhador seja referência e um lugar importante de canalização das políticas culturais da região metropolitana, além de palco de grandes eventos e festivais, como o FIT (Festival Internacional de Teatro) e o FAN (Festival de Arte Negra), assim como possa produzir e realizar seus próprios eventos”, diz Bones.

“O Centro de Memória do Trabalhador será um centro irradiador da cultura em três grandes dimensões: a simbólica, que contém as diferentes representações de linguagens, valores e crenças; a cidadã, que valoriza a inclusão social, a formação e o direito ao acesso; e a econômica, que gera trabalho, riqueza e se interliga cada vez mais a uma economia que se baseia na informação, na criatividade e no conhecimento”, finaliza Gabriela Santoro.

HISTÓRIA

O Centro de Memória do Trabalhador, segundo reportagens publicadas na época, começou a ser construído em 2016. A estrutura, que foi pensada desde o início para ser um equipamento cultural e que foi erguida pela Direcional Engenharia como contrapartida pelo condomínio edificado ao redor da antiga fábrica Lafersa, no entanto, caiu no ostracismo durante as gestões públicas passadas e acabou se tornando um cenário de filme de guerra. “Ele recebeu alguns eventos esporádicos e, depois, passou por um processo de completa depredação, sendo saqueado, desmontado e roubado. Levaram, principalmente, o material elétrico, que é um material muito caro. Levaram tudo”, revela Marcelo Bones.

Situado nas antigas instalações da Lafersa, empresa que atuava na produção de laminados de ferro entre os anos 70 e 90, o Centro de Memória do Trabalhador traz, em suas paredes, solos, chaminés e equipamentos da herança industrial da cidade de Contagem. Ao todo, são 24 mil metros quadrados de área, sendo 27 ambientes distintos, segundo um trabalho de catalogação feito pela Secretaria de Cultura e apresentado no lançamento do edital.

“O Centro de Memória tem características particulares, pois é um museu com equipamentos de uma indústria que foi muito importante para Contagem. E ele tem vários equipamentos que serão mantidos, etiquetados e mapeados. Nós vamos construir um circuito educativo para que as pessoas conheçam essa história, que não é somente a história da Lafersa, mas a história da indústria em Contagem, a importância dela, seus embates e seus bônus”, sinaliza Marcelo Bones.

O Espaço Cultural Centro de Memória do Trabalhador está localizado na rua Deputado Sérgio Miranda, S/N, na Cidade Industrial. As obras de restauração do espaço devem começar em breve. Já as atividades culturais no espaço estão programadas para acontecer em 2023.

VivaOnline

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