Ivan Chagas: Um olhar diferenciado para a produção cultural.

Ivan Chagas: Um olhar diferenciado para a produção cultural.

Por Ivana Andrade

 

Em meio à efervescente cena cultural mineira, Ivan Cha­gas é um dos produtores mais atuantes do setor, principal­mente em Belo Horizonte. Sua trajetória na área, desde a década de 80, é repleta de histórias marcantes que serão apresentadas, a partir de agora, na Revista Viva Grande BH. Ele vai integrar à equipe de colunistas, e terá como mis­são abordar temas interessantes com base em sua vivência profissional. “Sinto-me lisonjeado pelo convite. Será um pra­zer contribuir com a revista”, disse.

Ivan Chagas e Samuel Rosa

Com certeza, assuntos não faltarão. Ao chegar em sua residência para a entrevista, Chagas me mostrou pilhas de pastas com clippings, setlists de shows, desenhos feitos por artistas, autógrafos, adesivos de patrocinadores e parceiros, recortes de jornais e revistas com a divul­gação de seus eventos ao longo de sua carreira, que já soma mais de 30 anos. O acervo é guardado com zelo e de forma, extremamente, or­ganizada. Isso sem contar os inúmeros álbuns com fotografias antigas e raras de artistas e bandas, locais e nacionais com as quais teve ligação, como a Pouso Alto, primeira banda dos ex-integrantes do Skank, Samuel Rosa (voz e guitarra) e Henrique Portugal (teclado).
“Eu e o Samuel Rosa estudávamos no Pitágoras, em BH. Eu tinha 16 anos e ele 14 anos. Nós batíamos papo sobre música no corredor do colégio e, um dia, em 1982, ele me convidou para ver a apresentação deles no Parque das Mangabeiras. Eu fui e fiquei deslumbrado. Tocavam Beatles, Clube da Esquina e uma canção autoral que era uma comédia. A partir daí, fui acompanhando os ensaios e fortalecendo a amizade. Aí, virei o roadie da banda”, explicou.
De lá para cá, o ingresso ao universo da produção cultural ocorreu de forma natural, segundo Chagas. “A gente não nasce produtor, a gente se transforma em um”. De roadie da Pouso Alto, Ivan Chagas passou a empresariar bandas, produzir shows e trabalhar no setor de iluminação para eventos. Saudosista, ele relembrou a época em que trabalhou no extinto Cabaré Mineiro, que foi uma das maiores casas de espetáculos do Brasil. “A convite de Ramon Fiúza, passei a cuidar da iluminação de inúmeros shows da casa. Um deles foi de Baden Powell. No final da apresentação, a esposa dele veio até a mim e me chamou para ir ao camarim a pedido de Powell, que me elogiou pela iluminação.”

 

Ivan Chagas e Tribo de Jah

Projetos

De olhos atentos no mercado e em constante processo de inovação, Chagas sempre apresenta novidades. Por meio de sua empresa Sion Produções, já aprovou dezenas de projetos por meio de editais de leis de incentivo à cultura, desde 1998, como o tradicional Buena Vista Soul, Jazz & Blues Festival, realizado em BH, Sete Lagoas, Betim, Contagem e Pirapora, traz surpresas a cada edição. “Esse festival itinerante é um sucesso. Já chegamos a 31ª edição. O intuito é valorizar os artistas locais. Mais de 300 já se apresentaram em nossos palcos”, disse.

E mesmo durante a pandemia, o produtor se manteve ativo por meio de realizações de lives que foram transmitidas no canal da Sion Produ­ções no YouTube. Foram os casos dos festivais Reggae Horizonte, Mao Sessions e do Buena Vista Soul, Jazz & Blues Festival que, juntos, tive­ram mais de 20 mil visualizações na rede social. Entre os artistas que participaram dos projetos estão: Chico Lobo, Aldrin Gandra, Keyroga & Banda Kalimba, Alexandre da Mata & Black Dogs e muito mais.

Natália Dutra (assistente de produção) e Ivan Chagas

Ao recordar a sua carreira até aqui, com suas conquistas e desafios, Ivan Chagas, 58, se considera um batalhador. Preza pela sinceridade e pela autenticidade. Sem se preocupar em ser polêmico por suas opi­niões, fala o que pensa e o que precisa ser dito, principalmente sobre projeto de lei de incentivo, uma de suas especialidades nos campos da elaboração e gestão. Aliás, segundo ele, a desburocratização do pro­cesso é algo urgente e necessário. “Há muita complexidade. A gente gasta mais tempo no preenchimento das obrigações do formulário do que conceituando o projeto”.

Um dos grandes desafios da atualidade é a obtenção de patrocínio. “Tudo que se faz hoje fica muito caro. E muitas empresas não apoiam porque não tem conhecimento sobre as leis de incentivo à cultura. O pa­trocínio acontece no caso dos grandes eventos”. Ele explica, ainda, que muitas empresas investem apenas onde há interesse por parte delas.

Música

Ivan Chagas, que chegou a estudar Ciências Econômicas na PUC Mi­nas, seguiu sua vocação e decidiu optar pela área cultural. Sob influência familiar, teve o contato com a música desde a infância. “A música sem­pre fez parte da minha vida. Meu pai tinha uma radiola e sempre tocava samba e outros ritmos. Hoje, ela está presente em todos os meus proje­tos. Inclusive, faço questão de ouvir todo tipo de música. Ouço todas as músicas que recebo de bandas e artistas. É dessa forma que descubro os talentos e os apresento para o público”.

E a musicalidade passou a integrar os projetos da Sion Produções desde o início. “Fiz o primeiro encontro de food trucks em Sete Lagoas, em 2017, pois estavam no auge. Mas, o público me cobrou a música. Então, eu arrumei uma banda para tocar no dia seguinte do evento. O resultado foi muito bom. Resolvi então fazer no mesmo ano um festival de jazz e blues, nascia o Buena Vista Soul, Jazz & Blues Festival”, relatou o produtor.

Ivan Chagas e o Nenhum de Nós

Como fonte de inspiração para elaboração de cada projeto, Chagas leva em consideração os shows internacionais que já assistiu presencial­mente. Na lista gigantesca, há nomes como Al Jarreau, Dave Matthews Band, Bon Jovi, George Benson, Johny Winter, Maroon 5,Paul McCart­ney, Sepultura, Tears For Fears, entre outros.

Assim como a lista dos artistas inspiradores, a dos artistas que ti­veram ligação profissional com Ivan Chagas, ao longo de sua carreira, também é grande. “Fui o primeiro a trazer a banda Tribo de Jah, em Belo Horizonte, onde produzi vários shows dela. Também fiz shows da Natvus, atual Natiruts, e fui chamado para empresariar a banda de heavy metal The Mist”.

Ao folhear os álbuns de fotos, o produtor relembra os momentos inesquecíveis do passado, como a produção de shows com as bandas Ira e Nenhum de Nós, além de Elpídio Bastos, baixista e diretor musical do Olodum e Arnaldo Brandão (Hanói-Hanói). “Também produzi os shows do J. Quest no início de carreira da banda. Eles estavam levantando recur­sos com os cachês para a gravação do primeiro CD”, ressaltou.

Chagas também produziu mais de 50 espetáculos para a trupe do Circo Irmãos Simões em Minas Gerais.

Ele se recorda, ainda, da época em que foi o produtor da exposição “A história do Rock Brasileiro em 1.000 discos”, de autoria do poeta Marcelo Dolabela. O restante das histórias e as novidades, como o Bloco Alegria Alegria que estreou no Carnaval 2023, poderão ser conferidas na estreia da coluna de Ivan Chagas na próxima edição.

Ivan Chagas com a Trupe Circo Irmãos Simões

VivaOnline

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