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Henrique Dias: abstração e figuração em meio a linhas inspiradas pelas relações humanas
Ele é artista visual, produtor cultural e professor graduado em Educação Artística pela Escola Guignard. Apaixonado pela arte, ele diz vivê-la 24 horas por dia. Tanto que seus aposentos também se transformam em seu ateliê e a sala de estar onde recebe seus amigos para falar sobre arte. Este é o Henrique Dias, de 48 anos, um artista que mistura a figuração e a abstração com maestria e com seu jeito excêntrico e carismático tem conquistado os apreciadores do mundo artístico.
É nesse local que também está exposta parte de seu acervo que, segundo o artista, são artes que nunca estão acabadas, pois enquanto estão em seu domínio, haverá sempre uma inquietação para adicionar uma nova camada de tinta. Henrique Dias divide seu tempo entre a produção artística e a arte de ensinar crianças das escolas municipais Isabel Nascimento e Professor Hilton Rocha, na região do Petrolândia em Contagem. Também já atuou na antiga Secretaria de Educação de Contagem, onde realizou importantes projetos, entre eles o livro “100 artistas do Centenário”, o projeto “Tudo a Ver” e exposição sobre o cineasta contagense Tony Vieira.
Foi nessa época que ele criou o projeto “Entre Linhas e Sons”, com o músico Bruno Grossi, o qual realizava uma mistura de música e artes visuais com desenhos feitos e projetados ao vivo. Esse trabalho foi apresentado em diversos festivais, como o Architextures Métissés na Cité Internationale de Paris (França/2007), Festival de Inverno de Itabira (2009), entre outros.
Henrique Dias também participou do projeto Gentiliza, ao pintar parte da Banca do Alemão, no bairro Lagoinha, em Belo Horizonte. “Trabalhei a ideia de um bar e uma parte abstrata. Eu não sou um artista de rua, mas já participei de alguns projetos de arte de rua, como o Natal com Arte, em Contagem, entre outros. Gosto bastante dessa temática”, contou.
Atualmente Henrique Dias desenvolve a série Linhas, composta por pinturas em diversos formatos feitas em acrílica e Posca sobre tela e papel. Nesse trabalho, o artista discute os limites entre abstração e figuração, desenvolvendo composições carregadas de gestualidade e imagens simbólicas. Recentemente, apresentou muitas dessas obras na exposição Linhas, no Centro Cultural de Contagem. Nessa exposição, ele pode levar seus alunos para terem uma conversa a respeito da arte, uma oportunidade de conhecer o trabalho do próprio professor. Além disso, desde 2017 tem trabalhos expostos na galeria Peach Photo Art em São Paulo.
Entre os trabalhos mais recentes também se destacam o “Café com Arte”, junto ao Grupo Libertas, ilustrações para a contação de estórias de Sandra Lane, por meio da arte japonesa do Kamishibai, além de um projeto em conjunto com sua companheira e fotógrafa Raquel Meirelles sobre uma mistura de fotos e desenhos impressos em fine art.
História e inquietações
Henrique Dias conta que produz arte ininterruptamente. Se um quadro é construído e permanece no ateliê, acaba recebendo mais camadas de linhas, figuras e abstrações. “Fico inquieto ao ver um quadro comigo por muito tempo, então acabo mexendo nele. Daí eu paro e vou para outra obra, depois sigo nesta novamente”, disse. Assim, inquieto, ele vai construindo sua carreira, sem buscar finalizar um trabalho, mas sempre aprimorando sua arte, atualizando sua própria história.
Essa história recheada de inspiração tem muito de seus pais, Lélio Dias e Eunice Dias. O primeiro é um médico psiquiatra aposentado, “um cara com uma cabeça incrível e que muito me influenciou, pois seu convívio no meio cultural me salvou e me levou para as artes”, contou. A mãe, já falecida, foi sua principal inspiração como mulher decidida, uma vez que sua arte discute as relações humanas com um foco especial na figura feminina.
O artista conta que seu envolvimento com o mundo artístico começou há muitos anos, quando tinha apenas 16 anos e foi incentivado por um professor de matemática. “Eu não era bom em fazer contas e estava a beira de ser reprovado, porém, passava os recreios da escola desenhando, com o auxílio do meu professor de matemática que viu que, embora eu não tivesse muito tino para os números, já demonstrava talento e entusiasmo pelos desenhos”, contou.
Assim, ele decidiu se dedicar aos estudos da arte, primeiro no Instituto de Arte e Projeto (Inap) e mais tarde na Faculdade Guignard. “Gostava tanto do que fazia que, muitas vezes, costumava matar aula de arte para estudar arte. Ia para a biblioteca pesquisar e ‘comer’ livros”, revelou.
Em 1995, fez sua primeira mostra individual no Espaço Henfil da Câmara Municipal de Belo Horizonte, participando também ao longo da carreira de exposições coletivas como a CowParade BH em 2006. O trabalho intitulou-se “Dormiu vaca e acordou mulher”. A inspiração foi a mulher e sua responsabilidade em criar suas próprias situações.
Figuração e abstração
O trabalho de Henrique Dias tem uma discussão muito forte entre o figurativo e o abstrato. Para o artista, tudo é linha, assim, na mesma imagem se tem a figuração e a abstração; e essa abstração é parte da figuração. Por isso, sua marca mais forte é o desenho composto de linhas.
Dessa maneira, parafraseando o relato de Olister Barbosa, curador da recente exposição Linhas, sobre o Henrique Dias: apesar da estética, por vezes agressiva, de linhas cruzadas e emaranhadas, encontra-se a delicadeza e sensibilidade de um artista com alma de criança que carrega consigo os rabiscos para equilibrar e amenizar o peso da vida adulta.
“Há dois campos na arte, um que me move em termos de pensamento, sobre o que quero discutir no que diz respeito à relação humana, e o outro que diz respeito sobre a maneira como trazemos essa discussão para a materialização das ideias”, finaliza o artista.