Arte de Olister Barbosa

Arte de Olister Barbosa

A simbologia indígena e africana como forma de reflexão sobre nossa ancestralidade

Fascinado pela simbologia ancestral, especialmente a indígena e africana, tão presente na cultura brasileira, mas ainda assim pouco explorada no cotidiano, o artista Olister Barbosa navega entre pincéis, sprays, tintas e desenhos para levar ao público uma reflexão sobre a nossa própria ancestralidade. Criador de séries prestigiadas na Região Metropolitana de Belo Horizonte, como os trabalhos de “O Escambau”, Olister Barbosa retrata a identidade do povo mineiro, de forma moderna e ao mesmo tempo mítica.

Embora ele acredite que, muitas vezes, um trabalho tenha sua importância reconhecida ao longo dos anos, Olister destaca o quadro chamado “Salto Alto”, um dos primeiros da série “O Escambau”, como um dos mais importantes de sua carreira. “Trata-se de um quadro que mostra só as pernas de uma mulher com o salto alto e um arranjo de penas na canela, além de alguns grafismos indígenas. Esse quadro foi um dos primeiros que eu fiz”, revela.

O trabalho, que já não está mais de posse do artista, pois foi vendido para o fotógrafo contagense Aluísio Durco, definiu a linha dessa série. “Outro trabalho importante da mesma série é ‘Acaiaca’, ou ‘Ipê Rosa’. É um trabalho que fiz para a exposição coletiva do grupo Libertas, do qual pertenço”, completa.

‘Acaiaca’ ou ‘Ipê Rosa’ foi um trabalho que marcou a primeira exposição de Olister Barbosa com o grupo Libertas, a qual fez parte da semana BH Design Festival. O quadro retrata o famoso edifício Acaiaca, que fica no cruzamento entre Avenida Amazonas e Rua Espírito Santo, no coração da capital mineira. O artista conta que, para a composição da obra, ele fez uma relação do edifício com a lenda acaiaca, que traz a história do ipê rosa. “O quadro traz imagens de faces indígenas, semelhantes às encontradas do edifício Acaiaca, e de um ipê rosa compondo um triângulo vermelho, que representa a bandeira de Minas Gerais, que tem o formato de uma ‘bandeirinha’ de festa junina”, explica.

A obra é um misto do que representa a cidade de Belo Horizonte, a mineiridade e nossa ancestralidade, que, para o artista, é importante constar em seus trabalhos. Assim como a primeira obra da série, este quadro também não está mais com ele; foi vendido para Camila Vitral, filha do também artista Cláudio Vitral. Mas, antes, “Acaiaca” esteve em uma exposição que aconteceu na Assembleia Legislativa de Minas Gerais (ALMG), entre agosto e setembro de 2019. Ao lado do artista Demogolet, que apresentou as obras de “Mineiro de Ferro”, Olister Barbosa expôs esta e as demais obras da série “O Escambau”.

Além dessa, o artista destaca outra importante exposição para a qual foi selecionado. “Luzes de BH” – que aconteceu na Fundação nacional de Artes (Funarte) – contou com sua participação, depois de ter sido escolhido em virtude da exposição realizada no Centro Cultural Salgado Filho. “Primeiramente, participei de uma exposição no bairro onde moro, nasci e cresci. Foi muito legal! A partir desse evento, a Prefeitura de BH escolheu algumas obras e eu acabai participando da coletânea das exposições que aconteceram em diversos centros culturais da capital”, conta.

História

Olister Barbosa revela se considerar mais um desenhista do que pintor. E não é por menos, uma vez que sua influência remonta à infância quando se apaixonou pelos quadrinhos. “Eu ainda nem sabia ler, mas pegava as revistinhas dos meus irmãos e ficava olhando aqueles desenhos e tentando copiar do meu jeito”, revela.

O artista se encontrou com a arte ainda na mais tenra infância, o que remete às suas mais antigas memórias. “Lembro de estar dentro do pequeno guarda roupa de minha mãe, desenhando. Desde então, nunca fiquei um momento sequer sem desenhar”.

Foi assim, iniciando com lápis e desenhos preto e branco, depois com lápis de cor e mais tarde com tintas e spray, que Olister Barbosa foi evoluindo em sua arte, deixando aos poucos o colorido entrar em seu trabalho.

Atualmente, seu trabalho pode ser definido como moderno, com temáticas sobre as cidades, as pessoas e suas paisagens. Sua inspiração vem de pensamentos simples, coisas do cotidiano, além da ancestralidade, é claro. “De carta forma, elegemos outras estéticas para seguir e, por isso, criei valorizo essa ancestralidade que vem da estética africana e indígena, em uma tentativa de fazer com que suas simbologias possam fazer parte de nosso dia a dia, seja na nossa roupa, nas maquiagens, no cabelo ou adereços”, complementa.

Vale destacar que o artista ainda se envereda por outros temas, como a fragilidade das notícias, a era da fake news, entre outras temáticas.

Formação e influência

A primeira grande paixão e influência de Olister Barbosa foram os quadrinhos. Tempos depois, já na adolescência, começou a pintar, primeiro camisas – as suas e a de amigos, depois passou para os quadros. Com apenas 15 anos se matriculou no Instituto Universal Brasileiro, onde fez um curso de desenho artístico publicitário, por correspondência. “O curso me ajudou a entender algumas técnicas na construção da imagem, como esboço, luz e sombra, que eram coisas que eu copiava, mas não entendi muito bem a teoria”, lembra.

Assim, não tardou muito para que entrasse na Escola de Design da Universidade Estadual de Minas Gerais (EMG), onde se graduou em Licenciatura em Desenho e Plástica. Contudo, segundo o artista, foi o convívio com outros artistas nos centros culturais, as relações criadas, visitas a ateliers e exposições em conjunto, que realmente o formaram um artista.

Com o tempo, os desenhos de super heróis passou a dividir espaço com outras artes. À medida que foi se enveredando pelos estudos da história da arte, alguns movimentos despertaram o interesse de Olister Barbosa. Ele acabou se inspirando na Pop Art, no Expressionismo, na Semana da Arte Moderna de 1922, entre outros movimentos, como a arte abstrata.

Entre os principais ídolos, o artista destaca o trabalho de grandes desenhistas como, como Bill Sienkwicks, que trouxe para os quadrinhos um traço mais artístico e expressivo; John Romita Jr, cujos traços fogem do padrão dos quadrinhos. Já nas artes plásticas, ele destaca o trabalho de Roy Lichtenstein, “um cara que me mostrou que o quadrinho podia ser arte, com quadros gigantes e reticula que lembra a ampliação dos quadrinhos”, salienta. Por fim, Olister Barbosa também destaca a arte de Jasper Jones, famoso no movimento da Pop Art, com seus símbolos, os quais muito se assemelham ao trabalho do artista mineiro. “Acho interessante pegar a força que os símbolos têm e fazer a gente pensar um pouco”, finaliza.

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