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Yes! Nós gostamos de banana... Mas não somos macacos não!

Edição 11 27/06/2014 RAFAEL VICENTE

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Ilustração: Evandro Rocha

“Tá tudo solto na plataforma do ar
Tá tudo aí, tá tudo aí
Quem vai querer comprar banana?
Quem vai querer comprar a lama?
Quem vai querer comprar a grama?”
( Luiz Melodia )

Afinal, eu não tenho notícias de macacos que arremessam vasos sanitários ou bombas na cabeça de seus semelhantes. Muito menos que um bando tenha linchado uma macaca indefesa.

Mais uma vez, estou eu aqui, neste espaço, tentando escrever sobre esporte, mais precisamente sobre futebol. No entanto, novamente tenho dificuldade em abordar esse assunto sem sucumbir à tentação de “viajar” em temas que, na verdade, estão na órbita do planeta bola.

Por muitas vezes, ouvi de um amigo dos tempos em que eu morava em república de estudantes a frase “Cuidado com o que você lê, Rafael, o papel aceita tudo”. Eu a ouvia com frequência, talvez por isso acho que ficou registrado no meu subconsciente, e isso aguçou muito o meu senso crítico. Só que já não consigo mais só ler com senso crítico. Tudo o que vejo na tevê, na internet ou ouço no rádio tento não assimilar de pronto e procuro buscar, nas entrelinhas, no subtexto ou até mesmo nas imagens, outras possíveis verdades além daquelas que nos são servidas.

Ultimamente temas como racismo e violência nos estádios vêm ganhando muito espaço nos meios de comunicação. Mas, não sei por quê, a sensação que tenho é a de que, quanto mais se repercutem estes acontecimentos na mídia, mais eles se proliferam no País e em várias partes do mundo. Digo sensação porque não tenho dados estatísticos que possam respaldar uma afirmação.

Um fato a considerar é que, logo em seguida ao abominável acontecimento ao qual foi submetido o jogador Tinga, em jogo na Bolívia, vários outros casos semelhantes eclodiram em outros estádios de futebol do Brasil e do mundo. Não vejo necessidade de relatar aqui detalhes dos eventos terríveis inseridos neste contexto que abordo, pois já foram explorados ao máximo pela mídia. Mas, em especial, mais do que a atitude de Daniel Alves (jogador do Barcelona que comeu uma banana arremessada por um torcedor), surpreendeu-me o que ele disse a um entrevistador: “O grande problema disso é a repercussão que você dá ao racista, porque, se você não fala dele, ele não atinge o objetivo, que é causar dano”. Não sei se ele tem razão, mas acho no mínimo intrigante a sua fala, e ela merece a reflexão de todos os que militam na comunicação.

Da mesma forma, vem acontecendo com a questão das brigas nos estádios. Depois daquela ocorrida em dezembro de 2013, em Joinville, no jogo entre Vasco e Atlético Paranaense, muitas outras se sucederam. A mais recente foi “surreal” e ocorreu no Recife, quando um “torcedor” arrancou um vazo sanitário do banheiro do estádio Arrudão e o arremessou em outro torcedor.

Neste texto, usei a palavra “explorados”, pois é assim que entendo como alguns comunicadores, autoridades e “celebridades” vêm tratando assuntos tão polêmicos e complexos. Exploram não no sentido de aprofundar uma discussão séria, consequente e comprometida, e sim como uma pauta ou matéria-prima de mais uma produção dramática e piegas a preencher a grade da programação televisiva, a qual nos aprisiona, processando nossas almas e sentidos para só então nos libertar, já como “seres transgênicos”, quase autômatos zumbis a repetir comportamentos.

Por sua vez, as autoridades e “celebridades”, diante dos fatos polêmicos, deliciam-se com frases de efeito, lambuzam-se na retórica e fazem do discurso correto mais um ato diabolicamente político.

Percebo que vivemos um momento tão midiático que ver nossa imagem na telinha (custe o que custar) parece ser mais importante até que estarmos vivos. Desconfio que o ego exacerba à intolerância, e esta, estimulada pelos cliques e lentes cinematográficas, faz emergir atores que se esmeram em protagonizar, com requintes de crueldade, uma violência, seja física ou moral, que só caberia numa luta de “vale-tudo”, um roteiro de filme macabro ou policial de quinta categoria.

Antes que me acusem de verborragia, vou terminar fazendo algumas perguntas: de onde vêm os ídolos, autoridades e celebridades?... E para que ou a quem servem? O que é mais saudável? A atitude exemplar ou o discurso perfeito? A tevê é o espelho da sociedade ou a sociedade é o espelho da tevê?... Eis as questões!

De uma coisa estou certo: os macacos comem banana, mas ainda não fazem “selfie”.

 

Sugestão para ver no Youtube: filme de animação “Alma”, escrito e dirigido por Rodrigo Blaas.

Rafael Ferreira

[Estudante de Letras no CEFET-MG e atua na produção editorial há 25 anos]

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