• Grande BH, 21 de Janeiro de 2018
  • 09:19h
  • Siga:

Página PrincipalA Revista Cadernos BEM ESTAR SOCIAL Um sorriso em cada vida

Um sorriso em cada vida

Edição 13 27/12/2016 BEM ESTAR SOCIAL

foto-pag8.jpg

 Redação Décius Diniz | Fotografia Magno Gonçalves

Em agosto de 1987, o morro Santa Marta, do Rio de Janeiro, tomou conta dos noticiários do país. Acontecia, ali,uma guerra entre facções que foi considerada a primeira de tais proporções no Brasil. Daquele momento em diante, “favela” e “violência” passavam a ser palavras quase indissociáveis para a maior parte dos brasileiros.

Segundo dados do censo 2010 do IBGE,no Brasil, cerca de 11 milhões de pessoas vivem em aglomerados subnormais, nome utilizado pelo Instituto para designar vilas e favelas, número correspondente a aproximadamente 5% da população do país.

A Região Metropolitana de Belo Horizonte, apesar de não figurar no “top 5” das regiões com maior predominância desse tipo de formação comunitária, apresenta um número expressivo de aglomerados, concentrando cerca de 4,3% do total nacional. 

No Brasil, a maior parte dessas comunidades surgiu entre as décadas de 40 e 70, quando um processo intenso e progressivo de industrialização moveu grandes contingentes populacionais para os principais centros urbanos do país. A falta de oportunidades para todos e a supervalorização da terra nessas cidades fi zeram com que boa parte das inúmeras pessoas que chegavam para trabalhar se espalhassem por ocupações irregulares do espaço, as chamadas favelas.  

Na década de 80, percebiam-se os problemas endêmicos das periferias urbanas do Brasil: falta de saneamento básico, violência, condições precárias de ocupação de encostas e leitos de rios, dentre outros.

Nesse contexto, surgiu, em 1987, em Belo Horizonte, a Cooperação Para o Desenvolvimento e Morada Humana, CDM, organização sem fins lucrativos que visa ao desenvolvimento econômico e social de vilas e comunidades carentes. 

Em 2013 o CDM passou a atender comunidades da zona industrial de Contagem, na Região Metropolitana de Belo Horizonte, as vilas São Nicodemos, São Vicente e Santo Antônio e Vaquinha, conhecidas como complexo Frigo Diniz, surgidas nas imediações de um frigorífico homônimo ainda na década de 50. Próximas a uma fábrica da New Holland, multinacional estadunidense que é uma das apoiadoras da ONG, essas comunidades viram seu território ser paulatinamente comprimido à medida que novas indústrias e empresas se instalavam no entorno, intensificando um contexto de vulnerabilidade que já era grande.

Para essas comunidades, a organização oferece oficinas de formação humana, como oficinas de música e esportes, ações de qualificação e encaminhamento ao mercado de trabalho, formação e aproximação de lideranças comunitárias, tendo em vista aumentar a organização interna da população das vilas, de forma que consigam se articular melhor com empresas e o poder público.

Todavia,segundo a direção da ONG, um dos maiores ganhos do trabalho nas vilas é a valorização da auto estima das pessoas.“A CDM entende as pessoas sempre tem algo de positivo. O trabalho parte daí, valorizar e fomentar aquilo que tem de positivo e estimular para melhoria daquilo que está fragilizado.” afirma a instituição

Quanto mais as pessoas tiverem consciência de si e do potencial do trabalho coletivo, mais estarão aptas a participar adequadamente dos processos de desenvolvimento.

foto-pag9.jpg

Para a CDM o motor do desenvolvimento está nas pessoas e no que elas carregam como conteúdo humano.” Essa valorização deu resultados. No judô, por exemplo, mesmo com pouco tempo de oferta das aulas, já há medalhistas, como Kevin, 17 anos, morador da Vila São Vicente.Outrora “Eu quebrava essa escola toda... Parei por causa do judô. Aprendi a ter disciplina” conta. Medalhista em competiçõesde judô, ele é considerado destaque na escola.

Miguel Araujo, 14 anos, companheiro de Kevin no judô, é outro dos medalhistas consagrados pelo projeto.“ Procurei o judô por que queria fazer algo diferente e por que diziam que isso ajudaria a melhorar meu comportamento” conta. Da mesma forma que o colega, também desenvolveu um senso de disciplina ao longo das aulas de judô e foi capaz de levar isso para a própria vida. “O judô é um esporte disciplinado. E me falaram que se eu não melhorasse na escola não poderia ficar Se eu não comportasse, não ia pó der ficar.” revela. Bom desempenho na escola é um dos pré requisitos para que os alunos se mantenham no esporte.

foto-kevin-pag10.jpg

Kevin | 17 anos

foto-miguel-pag10.jpg

Miguel | 14 anos

Além de investir na formação pelo esporte, o CDM buscou resgatar a história da comunidade, que até então nunca havia sido contada por ninguém. Após um trabalho amplo de pesquisa e entrevistas, a organização editou um material gráfico, o livreto “Plantar Histórias para Construir o Amanhã”, que, de forma sucinta, reconta os principais aspectos da trajetória da vila Frigo Diniz, destacando a importância que as narrativas individuais de moradores novos e antigos têm para esse processo.

Todos esses esforços se consubstanciam num projeto maior do CDM, que é o de emancipar as populações das comunidades atendidas e municiá-las com instrumentos, formações e experiências que lhes permitam enfrentar as dificuldades que a realidade brasileira oferece. Para isso, se reúnem com a população e constroem o que chamam de Plano de Desenvolvimento Comunitário, o PDC. Nele, há toda sorte de informações sobre a vila em questão, desde a sua história, até o número de habitantes ou estabelecimentos públicos ativos. Tudo isso aliado a propostas de ação que dão um norte para resolver situações problema, como remoção de casas e processos de reintegração de posse, ou mesmo para pleitear direitos, como a construção de uma nova escola ou posto de saúde.

foto-1-pag11.jpg

Também na Região Metropolitana, atua o Fundo de Aceleração para o Desenvolvimento Vela, o FA.VELA. Criado em 2014 por pessoas que, em sua maioria, eram oriundas de comunidades e favelas, com o objetivo de gerar oportunidades para o desenvolvimento humano, intelectual e econômico de populações em situação de vulnerabilidade social.

Contando com apoiadores como a Embaixada dos Estados Unidos da América e a Universidade de Cambridge, além de inúmeras empresas brasileiras,o projeto, inicialmente voltado para a oferta de educação empreendedora, ajudou dezenas de pessoas de periferia a alavancarem o próprio negócio. Segundo dados da organização, pelo menos 15 empreendedores foram “acelerados”, termo utilizado pelo grupo para designar um empreendimento bem sucedido, enquanto outros 60 passam pela fase de aceleração atualmente, distribuídos por três comunidades da região metropolitana de Belo Horizonte: Morro do Papagaio e Pindorama, em Belo Horizonte, e Parque São João, em Contagem.

João Henrique, 30 anos,morador da vila, e proprietário da empresa Canecas & Produtos, acelerada pelo PIPA, conheceu o FA.VELA por acaso, enquanto andava pela rua e, no último dia de inscrições para o programa, encontrou com um membro da ONG. Teve seu negócio acelerado pelo Programa de Aceleração, PIPA, do FA.VELA.

Até aquele momento, João desenvolvia vários serviços de informática. Ele conta que, depois daexperiência na ONG, passou a ver potencial lucrativo em seu trabalho, pois muitas pessoas pagariam para ter produtos de comunicação visual com a qualidade que ele era capaz de oferecer.

Dai então surgiu o Canecas & Produtos, uma empresa que desenvolve trabalhos de comunicação visual como placas para pontos de venda, cartões de visita, panfletos, banners e toda linha de produtos no segmento de foto produto, como camisas,canecas, botons, dentre outros, suprindo assim a necessidade da comunidade. “Muitos dos jovens que tive o prazer de ajudar hoje são meus companheiros de trabalho no dia a dia do Canecas & Produtos” conta.

foto-2-pag11.jpg

Antes mesmo de se envolver com o FA.VELA, João já tinha uma relação estreita com o voluntariado na vila. Isso por que desde muito cedo trabalhava oferecendo cursos gratuitos de informática em computadores que ele mesmo montava à partir de componentes eletrônicos descartados.“Por ter vivenciado por diversas vezes o dificil acesso para ter e usar um computador comecei a estudar por conta própria, através de cd-room que encontrava em um ferro velho que tinha próximo a minha casa. Com isso comecei a montar computadores e laboratórios de uso coletivo dentro da comunidade, onde instruía os jovens quanto às ferramentas disponíveis para o acesso à Inclusão Digital.”

Próximo passo: sustentabilidade na favela

foto-1-pag12.jpg

Ao usar lixo eletrônico para montar novos computadores, João lidou com outro problema associado às ocupações irregulares em centros urbanos: a degradação ambiental. Como boa parte das vilas e favelas surgem em terrenos abandonados ou mal utilizados, raramente têm algum tipo de serviço de esgotamento sanitário ou saneamento básico. Geralmente, leva-se anos até que essas ocupações passem a ser contempladas por serviços públicos de coleta esgoto ou recolhimento de lixo.

Por entender essa realidade, recentemente, o FA.VELA iniciou o FA.VELA RESILIENTE, que vai atuar como um braço socioambiental da ONG, promovendo a aceleração de empreendimentos sustentáveis na região da Microbacia Hidrográfica da Pampulha, que compreende bairros de Contagem e Belo Horizonte . Desta forma, a entidade acredita que pode agregar uma nova dimensão aos trabalhos em comunidades, a do desenvolvimento sustentável. Assim, além de estimular o empreendedorismo, a organização espera despertar nas populações atendidas uma consciência ambiental maior, de forma que os empreendimentos surgidos impactem o mínimo possível o meio ambiente.

foto-2-pag12.jpg

 

Voltar para Cadernos

  • Compartilhar:

Última Edição

Edição 14

Maio de 2017

Confira

Colunistas

SARAH PARDINI

Feminilidade

OHARA RAAD

Beleza e Estética

ALAIZE REIS

Engenharia Civil

RONAN GOMES

Língua Portuguesa

LINDOMAR GOMES

Direitos e Cidadania

Viva Grande BH

Rua Getúlio Vargas, 33 Bairro JK - Contagem, MG CEP 32.310-150

Contato

  • Redação: 31 2567.3756
  • Comercial: 31 2564.3755 | 3356.3865

Siga:

Assine nossa Newsletter:

(c) 2009-2010 Todos os direitos reservados. Confira nossas políticas de privacidade.

,