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Sentar na cabeceira da mesa pode ser angú de caroço

Edição 08 11/09/2013 PAULO PURAÑA

               Sentar na cabeceira da mesa, em suas laterais, escolher sua própria disposição de onde sentar-se à mesa, é a fina linha entre o simples e o sofisticado.

 

               O bom da mesa é o estímulo dos olhos quando se tem um juízo de paladar; da intimidade, quando as pessoas são capazes de se comunicar honestamente - carinhos, angústias, alegrias, tristezas, inseguranças, esperanças - e não ter o receio de, ao estabelecer um diálogo, se mostrar quem é, olho a olho. Na cozinha é possível perceber que ser filósofo é propor, na sala, um confronto de ideias entre cavalheiros cordatos.

               Procurando recuperar a mentalidade de uma época e de um lugar, saio da minha cozinha e vou até a França de Luis XIV – o Rei-Sol. O amante da boa mesa tinha uma regra curiosa: em sua corte, o prestígio das pessoas era medido pelo peso da cadeira em que lhes era permitido sentar. Quanto maior o peso, maior o prestígio. Apenas o rei e a rainha podiam usar cadeiras com braços. No absolutismo de Luis XIV, as mesas funcionavam como sagração de cavaleiros, para fazer alianças, planejar anexações de terra, casamentos e guerras. Ressalto: as primeiras mesas eram quadradas, onde cabiam várias pessoas, mas na cabeceira só cabe uma... O Rei - A Rainha - A Monarquia. Assim, eles se diferenciavam. Estavam na cabeceira da mesa governando sozinhos. Esta antiga tradição foi trazida e adaptada para os nossos dias, ou seja, se ele é poderoso então é ele quem paga a conta.

               Um cenário bem diferente, sob o ponto de vista histórico, aparece nas ilhas britânicas, cinco séculos depois de Cristo: filho adotivo de um nobre, Rei Arthur, inaugura a mesa redonda, a famosa Távola Redonda, representando que ninguém é melhor que ninguém e que todos eram iguais. Uma enorme mesa redonda, com lugar para todos os cavaleiros do soberano. A mesa tinha esse formato circular, sem cabeceira ou “lugar de honra”, para que todos se sentissem em pé de igualdade.

               Relatos que misturam história, mito e imaginação, fornecem a base para entendermos a busca de Rei Arthur pelo Graal (cálice usado por Jesus Cristo), segundo a tradição cristã.

               Quando se vê a Santa Ceia, a última ceia de Cristo, eternizada devido à narrativa de Lucas e a genialidade de Da Vinci, é evidente que a famosíssima “Última Ceia” e seu conjunto de ordem superior não passou de uma mise-en-scène.

               Pensar dói, um tipo de dor de cabeça que, talvez por isso, hesitamos tanto em pensar como era possível aquela mesa de jantar, considerando que no ano 33 D.C. a suposta “Última Ceia” de Jesus teria sido feita: sem mesa, sem cadeiras e sem talheres individuais, pois ainda não havia mesas, cadeiras e talheres. Comia-se diretamente das travessas com as mãos.

               É daqui da minha cozinha, situada em Mateus Leme, junto a minha esposa Evelyse Klier Dantas, que entendo que a expressão angu de caroço merece ser compreendida e relativizada.

            Houve um tempo, na sociedade brasileira, que só uma pequena parcela da sociedade civil conheceu a fartura e não sentia na carne o que é ter que descascar um abacaxi, resolver um pepino, encarar uma batata quente e enfrentar um angu de caroço, que é o dia a dia. Essa expressão tem origem no tempo da escravidão, quando na hora de alimentar, aos escravos era entregue uma cuia, que era sempre uma porção de angu servido por uma escrava que, dando um jeitinho, escondia alguns pedaços de carne ou algum torresmo debaixo do angu que lhes eram servidos. É então, que algum outro escravo comentava ao desavisado companheiro do lado, que estava na fila: “debaixo desse angu tem caroço.”

 

              (Expresso aqui carinhosamente um viva ao Wanderley e Vera,  aos amigos do SKINÃO  e     carinhosamente à Whitney do Planet Açaí, em Mateus Leme.)                                                                                                                                  Paulo Purãna

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