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Sem medo de desafios

Edição 10 31/03/2014 PERSONALIDADES

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Sem medo de desafios

Ohara Raad prepara as malas para uma visita de trabalho e lazer à Itália

Por: Fleury Rosa e Natália Rosa

Fotos: Bruno Penato

Ninguém se realiza 100%, ao contrário, está sempre em busca de algo, está no caminho para algum lugar. Este é o sentimento da transexual Ohara Raad, empreendedora no ramo de beleza, proprietária do Espaço Ohara Raad, muito bem localizado no Bairro Eldorado, em Contagem, que, segundo ela mesma admite, já “atingiu um nível bom de desenvolvimento que alimenta novas lutas e novas conquistas. Osplanos são muitos”. 

Entre os muitos planos, está crescer mais e mais profissionalmente, aqui e fora do país. “Amo o Brasil por muitas coisas e odeio igualmente por outras tantas. Nas muitas viagens que tenho feito, sempre mais, decidi que não quero mais viver aqui. Uma das razões é que já fui vítima de violência várias vezes, especialmente a de pagar imposto e não ver retorno disso”.

Em busca de qualidade de vida, Ohara Raad já decidiu que vai viver na Europa e já está se preparando para isso. Ela conta que essa ‘vontade’ surgiu em Madri, na Espanha. “Vivi lá por seis meses. Um belo dia, um homem careca e de cavanhaque me falou que meu cabelo era bonito e pesado, mas precisava de movimento. Ele dava cursos de cabeleireiro e estava sem modelo naquele momento e me convidou para o papel. Em consequência, para eu deixá-lo cortar meu cabelo. Fui para passear e acabei num big salão. Fez o corte e eu me informei sobre os cursos. Conhece um conhece outro recebi convite para ficar lá e trabalhar. O projeto inicial era ficar até dezembro, provisoriamente. Visitei 22 cidades em 8 países para sondar o que era bom e o que seria melhor para trabalhar, mas eu não tenho irmãos e como minha mãe adoeceu, tive que voltar”.

Consciente de que a volta seria temporária, ainda que longa, a empresária já chegou ao Brasil fazendo planos. O primeiro deles, que vem cumprindo a risca é manter o Espaço Ohara Raad, sempre com muitas novidades, como o site que está em construção, cada vez melhorando-o mais, ampliando-o, com mil ideias, como o “Se embeleze brindando uma vez por mês” quando serve um saboroso drink aos clientes.

“Na Europa, o profissional brasileiro é muito valorizado. Eles têm técnica, mas carecem dessa criatividade, eles gostam dela. Por tudo isso, penso, em três anos, voltar a Espanha para morar. Eu me caso ainda este ano com um amigo brasileiro, para regularizar a minha vida lá e, claro, pretendo abrir um salão lá. Ficarei com um gerente aqui e abro uma filial do Espaço Ohara Raad lá, com profissionais brasileiros. A intenção é promover intercâmbio entre os profissionais daqui e de lá, principalmente na Europa, onde as oficinas são mais acessíveis”, resume Ohara, que pelo visto vai viver na ponte aérea sobre o Atlântico, passando temporadas aqui e lá, de acordo com as altas estações. 

Sucesso assegurado

Alguém duvida que Ohara Raad será mais uma vez bem sucedida? Ela que se define como uma profissional de mil e uma utilidades, numa referência a uma grande marca de produto de limpeza. “Ser proprietária de um empreendimento de beleza não é nada fácil. Ao longo da minha formação aprendi a fazer quase todos os trabalhos do salão, até porque ocasionalmente algum colaborador pode faltar e não podemos deixar nossos clientes na mão. Hoje em dia já deleguei algumas das muitas atividades tais como sobrancelhas, alisamentos térmicos, escovas, mas nem por isso deixo de fazer quando é preciso. Se preciso, até varrer o chão ou servir um cafezinho, organizar o espaço em dias de pico e outras coisas”.Isso sem falar que empreender, ser dona do próprio negócio, não é nada fácil. Segundo Ohara, as barreiras são várias, desde um governo que não estimula a vida do empreendedor, com impostos altos e pouco apoio, bem como a crise que vem se instalando pouco a pouco no Brasil nos últimos dois anos. “Mas com criatividade e profissionalismo, buscando conhecimento técnico internacional e nacional, ficando atenta às novidades do mercado, criando dias diferentes como o dia da beleza com sorteios de brindes e fazendo do salão um local de festa, inovando também no atendimento das noivas – algo personalizado, com mais qualidade e menos quantidade - vamos quebrando as dificuldades”, conclui.

Apesar dessas dificuldades, ter o próprio negócio é algo que Ohara Raad sempre recomenda a quem está começando a carreira, mas ela adverte que

“é preciso ter conhecimento da área na qual pretende trabalhar, para não ficar 100% dependente de colaboradores, conhecimento administrativo e principalmente contar com uma equipe que seja dedicada e interessada no crescimento da empresa. Finalmente, se dedicar muito, trabalhar mais ainda: atender clientes, administrar, cuidar de cada detalhe”

Enquanto não chega a hora da mudança em definitivo, as viagens internacionais vão se sucedendo e Ohara Raad se dedica a outra atividade que lhe dá muito prazer, a de produtora de moda. “Não é sempre que temos à disposição produtos de moda para determinados trabalhos, como será agora, na próxima produção em que estou envolvida, capa e editorial para uma revista a ser feito na Itália, mais precisamente na cidade de Milão. Vou pessoalmente produzir e dirigir o trabalho”, completa.

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Uma paixão que surgiu na infância se torna profissão e vida.

Brincar! Este é um exercício feito na infância que se reflete por toda a vida do ser humano. Meninos e meninas que brincam de médico, muitas vezes se tornam médicos. O mesmo acontece com quem se mete a construir sonhos infantis e mais tarde se torna engenheiro. Muitos são os exemplos, inclusive os que brincam de barbeiro, de cabeleireiro e se tornam profissionais da área, empreendedores com salões exuberantes ou espaços de beleza ricamente construídos.

Há quem não passe da primeira experiência, como os pequenos irmãos que se aventuraram a brincar de salão às vésperas de um Domingo de Ramos e o mais velho, de cinco anos, tesoura em punho, ‘tosou’ o cabelo louro do irmão de um ano e meio, preparando-o para a celebração. Do mesmo modo, há quem começou na tenra infância e não parou mais.

Foi assim com Ohara Raad, que desde criança tinha “mania de brincar com cabelos das primas, de fazer tranças e tudo mais que fosse possível. Tive também a influência de minha mãe que deixou a cidade de Curvelo – ela saiu um pouco do normal da vida das mulheres da época, que era se casar cedo – para trabalhar em Belo Horizonte. Ela apostou em cursos de costura e de cabeleireira. Exerceu a função em casa, arrumando a si mesma e atendendo algumas amigas. Rolinhos, bobes - antes se usava muito – eram peças comuns no meu cotidiano”.

Se a dedicação aos cabelos começou como uma simples brincadeira, rapidamente tomou ares de algo mais sério. Ao entrar na adolescência, uma amiga muito próxima queria anelar o cabelo e usando a técnica do papelote, Ohara Raad começou a cuidar disso para ela.

“Mais tarde um pouco, aos 13 anos, fiz um curso de teatro para ajudar a vencer a timidez. Sempre fui uma pessoa extremamente tímida, muito introspectiva. Era tanto que se tinha um grupinho numa calçada, eu atravessava a rua para não ter que cortar aquele grupo, passar entre aquelas pessoas. Terminei o curso de teatro – já trabalhava numa fábrica de bonecas de porcelana, enchendo os corpinhos das bonecas, feitos de tecido. Dentro da fábrica fui evoluindo até aprender a colocar cabelo, uma das tarefas mais difíceis do processo”, recorda, destacando mais uma vez a forte ligação com os cabelos.

O passo seguinte foi fazer um curso de cabeleireiro. “Passei em segundo lugar na prova inicial, mas na entrevista com a professora, quase fui barrada, devido à minha pouca idade. Tinha 14 anos na época e uma carinha de menos, de criança mesmo. Ela não queria deixar, mas consegui ficar no curso de seis meses. Depois, lá mesmo, fiz curso de aperfeiçoamento e sai para um salão, ainda como empregado”.

De lá para outro salão do mesmo dono e na sequência para outro, no Bairro Inconfidentes, onde trabalhou com profissionais mais experientes e pode aprender mais. “Fui pegando malícia com os profissionais”.

Atualmente, é usual começar a vida profissional tão cedo, mas na época em que Ohara Raad começou, não era comum uma pessoa tão jovem iniciar um negócio próprio, principalmente quando não se tem apoio. “Inicialmente eu não tive apoio de minha mãe, que queria que eu seguisse outra carreira”, conta Ohara.

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Reviravolta

Até os 19 anos, a transexual Ohara Raad trabalhou como colaboradora em um salão. Saiu com a intenção de atender em domicílio. A atividade durou pouco tempo, pois as dificuldades, como a inexistência de telefonia móvel e a dificuldade de manter telefone fixo, acabaram por inviabilizar uma iniciativa até certo ponto visionária. “Avisei ao dono do salão que eu sairia em 30 dias. Menos de uma semana depois do aviso, ele me dispensou. Certamente ele ficou receoso de que eu pudesse ficar ali aliciando clientes. Isso acontece até hoje, no meio, os acordos não são tão rigorosamente cumpridos assim”, lamenta.

A mudança se tornaria um passo importante para a reviravolta na carreira e na vida. Um amigo, com condição financeira boa, decidiu ajudar. Ohara estava com 19 anos e através dele consegui alugar uma loja. “Ele tinha dois sofás velhos que nós reformamos. Comecei com um espelho no chão, um lavatório e duas cadeiras, uma delas dada por minha mãe. Pouco a pouco as coisas foram evoluindo, melhorando”.

Desde essa época Raad já acreditava que salão tinha que ter algo mais que um espelho, ou seja, precisava ser um espaço com detalhes, molduras de gesso. O salão exigia um cuidado geral com o espaço a ser dedicado à beleza. Paralelamente, foram surgindo as oportunidades de novos cursos, aqui, em São Paulo...

“Na maquiagem, me tornei autodidata. Tinha noções das coisas, começava a me maquiar, a reproduzir o que via nas revistas. Eu olhava muito minha mãe e aprendia”.

 

A vaidade que gerou bons frutos Ohara Raad confessa que é muito vaidosa e isso desde criança. Segundo ela, na família, todo mundo tem cabelo crespo e desde os 12 anos ela alisava o dela. Fazia toca. Só o alisamento não permitia ter um cabelo comportado, precisava mais, precisava de outros recursos disponíveis. Como meu cabelo era muito volumoso, eu fazia escova e aplicava a toca para sair à noite. “No quesito visual, as pessoas têm muito mais conforto hoje, porque a progressiva, aliada à tecnologia cosmética e de aparelhos, facilitam a vida de quem tem cabelo crespo. Antes a gente sofria muito, porque os resultados não eram tão duradouros”, explica.

A vaidade ajudou a aprender e estar antenada às novidades do mercado, às exigências dos consumidores, ajuda a crescer e desenvolver. Prova maior disso é o estágio que se encontra hoje o Espaço da Beleza Ohara Raad (Avenida José Faria da Rocha, 4638, Eldorado – Contagem- -MG) que tem nas mulheres a maior parte da clientela – 75% - mas conta também com uma grande clientela masculina,

“desde gays – clientel a grande - até homens casados e pais de família que fazem progressiva, sobrancelhas, retiram pelo nas costas, muito diferente dos homens de tempos atrás. Hoje eles se preocupam com pelo, com pele...”

Após lembrar que em São Luís, no Maranhão, há um salão, chamado de Clube da Barba, voltado para o público masculino, onde na sala de recepção há uma mesa de sinuca, os homens cortam cabelo, fazem unha, enfim, tratamento completo. “Aqui mesmo onde trabalhamos mais para as mulheres, com dia da noiva, penteados e maquiagens para formaturas, etc., tem homens que vêm e suportam com naturalidade a toquinha para fazer progressiva. Sem qualquer preconceito. Posso garantir que o público gay é tranquilo e os homens com cabeça resolvida”, completa

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