Página PrincipalA Revista Colunas GLÁUCIA HELENA Relações de Igualdade de Gênero e o papel da Educação
Como falar em educação para uma nova sociedade se não mudarmos as concepções enraizadas que ainda cultivam relações de desigualdade entre homens e mulheres?
Como segue os processos educacionais, as metodologias, os programas e projetos nas escolas e os pensados pelas gestões no que diz respeito a mudança de comportamentos e ações de igualdade entre homens e mulheres, meninas e meninos?
As escolas estão produzindo avanços diante das conquistas das mulheres? Ou estão reforçando os mesmos comportamentos preconceituosos e desiguais? Este é um bom debate para se fazer dentro de uma Conferência de Educação, não é mesmo?!
Então, no mês de dezembro, a Prefeitura de Contagem vai fazer realizar a III Conferência Municipal de Educação, e na pauta da inclusão, entra o debate da inclusão de gênero. Não apenas como um conteúdo de currículum. Mas como uma temática de interesse público, para que possamos de fato avançar no que estamos nos propondo a fazer, uma nova educação.
Assim, é preciso tratar dos pontos que torna as relações desiguais. Colocar o dedo na ferida aberta, ainda por cicatrizar, da dívida histórica que tem a sociedade com as mulheres. Precisamos rever os textos, o conteúdo, o programa, os projetos, as leituras e a escrita, que despreza e torna invisível o feminino, a mulher, suas conquistas e direitos.
Precisamos tratar de buscar soluções para questões que atingem a educação, o processo de aprendizagem, como por exemplo, buscar ações conjuntas para que os problemas que mães de alunos e alunas enfrentam sofrendo violência doméstica cotidiana. Problemas como este que encontram na escola um espaço de desabafo. É o nosso olhar, o nosso posicionamento que muda o olhar pra esta situação e interfere no processo de aprendizagem.
Se entendemos que o ser humano, crianças, adolescentes e adultos, são imbuídos de estímulos para que haja aprendizagem, como exigir o aprender, assimilar, interessar por algo, se questões de desigualdades nos afetam na essência? E estão no cotidiano silencioso das escolas.
Como uma criança lida com a violência que uma mãe sofre em casa, passando por ela sem se abater diante das cenas que grava na memória, tendo que responder a uma capacidade de aprendizagem e assimilação de conteúdo? Ao detectarmos isto, como devemos atuar? Este é o debate. Não é um caso para atuarmos como psicólogas e psicólogos, esta não é nossa tarefa. Mas acolher a situação e buscar a integração das nossas ações com as demais políticas da cidade, é urgente. Este é um caso para que possamos encaminhar junto com os demais órgãos de defesa e prevenção de violência. CRAS, CREAS, Centro de Referência da Mulher, Coordenadoria de Políticas para Mulheres, Delegacia de Mulheres, Conselho Municipal dos Direitos das Mulheres, Defesa Social e outros, devem atuar de forma integrada para que situações como estas sejam acompanhadas, para um melhor desenvolvimento humano, e capacidade de dar uma qualidade de estímulo à aprendizagem, tanto da mãe que vivencia a violência, quanto da criança que sofre a interferência dela.
Assim, chamo para nós, a tarefa de debater de forma mais consistente, as intervenções para rompermos com o ciclo de violência doméstica que mulheres vivem, ainda em silêncio. A violência da desigualdade de gênero que ainda se faz presente. E quando este silêncio é rompido, e nossos ouvidos conseguem compreender o sinal sonoro que emitem, temos como tarefa primeira, contribuir para um novo processo de educação, que ouça e responda a todos os gritos oprimidos e sofridos de desigualdade. Na escola, a vida nos chama a todo momento para ouvirmos o que os muros tentam contem. A desigualdade de gênero grita por nossa intervenção.
Esta é a tarefa, este é o nosso desafio, de fazer nova a educação, e buscar a igualdade como condição para ter um espaço de igualdade, harmônico e prazeroso para aprender e ensinar.
Gláucia Helena
Assessora e Consultora de Política de Gênero e Enfrentamento a Violência Contra Mulheres
glauciahelena2012@gmail.com
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