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Rádio Itatiaia

Edição 04 31/03/2012 PERSONALIDADES

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Itatiaia, a rádio de Nova Lima

Em junho de 1951 o radialista Januário Laurindo Carneiro fazia a primeira transmissão da Rádio Itatiaia diretamente do Edifício Ouro, em Nova Lima. A estação nasceu com 100 watts, a menor potência permitida por lei, muito baixa para quem quisesse conquistar algum ouvinte. A freqüência era a pior possível: 1580 khz, no finalzinho do dia. Ninguém poderia imagina que aquela pequena emissora de Nova Lima pudesse se tornar uma das redes de comunicação mais sólidas do país. 

Mas foi o que aconteceu. A Itatiaia cresceu, se agigantou. Desde 1996 opera via satélite, com cerca de 60 emissoras afiliadas, cobrindo 94 por cento do território mineiro. Foi a primeira rádio a manter a programação 24 horas no ar; a utilizar satélite para transmissões internacionais; a transmitir Copas do Mundo e Olimpíadas com equipe própria e canal independente. Possui os melhores e mais modernos equipamentos de transmissão e tratamento de som e pode ser ouvida pela internet, pelo celular, pela TV a cabo, nos canais de rádio da Sky Net e Embratel, com abrangência que permite seu acesso em qualquer parte do mundo.

Com foco direto no esporte, jornalismo e prestação de serviços a Itatiaia possui público fiel e audiência recorde. Tanto que ganhou por 13 anos consecutivos do Top Of Mind como a rádio mais lembrada pelos mineiros. Hoje a emissora se posiciona entre as 5 mais importantes do Brasil e está preparada para a chegada do rádio digital.

Emanuel Carneiro, irmão do fundador, atual diretor presidente da Rede Itatiaia e presidente da Associação Brasileira de Empresas de Rádio e Televisão (Abert), recebeu a equipe da Revista Viva Grande BH na sede do grupo, no bairro Bonfim, em Belo Horizonte, onde falou das conquistas da emissora nestes 60 anos de existência e do carinho que Januário sempre teve por Nova Lima, cidade que completou 311 anos no último dia 5 de fevereiro e onde a Itatiaia começou sua trajetória de sucesso.


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  • A Itatiaia nasceu em Nova Lima em 1951, graças a iniciativa de um apaixonado pelo rádio. Conte sobre esta época, quando Januário Carneiro, resolveu fundar sua própria emissora.

Aos 23 anos, o Januário era editor de esportes do jornal “O Diário” e correspondente da Rádio Continental, do Rio de Janeiro, uma emissora que tinha uma proposta nova. Não tinha auditório, rádio novela, teatro, cantor. Era uma emissora de informação. Ele ficou encantado com a ideia e quis trazê-la para cá. A oportunidade surgiu quando conheceu uma pessoa que conseguia a licença, montava rádios em cidades menores e depois vendia. Esta pessoa, um carioca, montou uma rádio em Nova Lima, colocou o nome de Itatiaia, e pretendia vendê-la. Na época o Januário era locutor esportivo da Rádio Guarani e tinha muita simpatia pelo Villa Nova e amizades em Nova Lima. Ele abraçou a oportunidade, juntou dinheiro e assumiu a rádio no município, conservando o nome Itatiaia. A sede da rádio ficava no prédio onde está localizado hoje o Cine Ouro.

  • Em 1952, depois de alguns meses de funcionamento, Januário resolveu transferir os estúdios da Itatiaia para Belo Horizonte. O que o levou a tomar esta decisão?

O Januário percebeu que em Nova Lima não havia mercado para a rádio crescer. Conseguiu comprar um terreno exatamente no limite entre Nova Lima e Belo Horizonte (atrás do BH Shopping) e transferiu os transmissores para lá. Trouxe os estúdios para a capital, na Rua Rio de Janeiro, e manteve uma sucursal em Nova Lima. O começo foi muito difícil, a concorrência era muito forte, havia poucos recursos. Mas devagar, com muita persistência, a pequena Itatiaia foi ganhando espaço, audiência e credibilidade. Aumentou a potência e se transformou numa emissora respeitada. Em 1961, veio para este prédio aqui no Bairro Lagoinha.

  • Como ficou a relação da Itatiaia com Nova Lima depois da transferência do estúdio?

O Januário sempre se lembrou com emoção de como a Itatiaia foi recebida em Nova Lima. É uma história de carinho, de muita amizade. Mesmo depois, quando os estúdios vieram para Belo Horizonte, a população sempre se referia à Itatiaia como uma emissora de Nova Lima. E a Itatiaia mantém este vínculo de ser uma emissora de Nova Lima, com muito orgulho. Nossos transmissores estão ainda hoje no município.

  • E a história do Januário com o Villa Nova Atlético Clube?

Uma história de amor. Ele era um torcedor apaixonado. Foi presidente do Clube, participou da reforma do campo do Villa e foi presidente do Conselho Deliberativo por muitos anos. A sede belo-horizontina do Villa Nova era na Itatiaia. Aqui foram feitas dezenas de reuniões. Ele fez amizades eternas em Nova Lima.

  • Quando o senhor começou a trabalhar com o Januário?

O Januário era 16 anos mais velho do que eu, e além de irmão, era meu padrinho.  Quando eu era menino, me levava para todo lado. Em 1957, depois que meu pai morreu, ele me levou para trabalhar efetivamente na Itatiaia. Eu tinha 13 anos na época. Estudava de manhã e ia para a rádio de tarde. Era o office boy. No final de semana ia com o Januário para os campos do Independência, do América, do Cruzeiro. Ajudava a esticar fio, aprendi a ser operador de som. Depois fui para o plantão esportivo. Esperei a fase da mudança de voz da adolescência e aos 17 anos comecei a falar, a ser locutor.  Passei por vários departamentos. Fui repórter, redator, programador musical, diretor artístico e diretor de operações.

  • Quando assumiu a direção da Itatiaia?

Eu já era sócio do Januário na rádio, quando ele faleceu em 1994. Seis anos antes ele teve dois AVCs muito fortes que deixaram sequelas. Então, mesmo com ele aqui, era eu quem dirigia a rádio. No terceiro AVC ele faleceu. Foi uma transição muito ruim porque ele morreu cedo, nos deixou aos 66 anos de idade.

  • Como era a convivência entre vocês dois?

Era um convívio muito tranquilo. E como ele não era casado, não tinha filhos e havia uma grande diferença de idade entre nós, era como se ele fosse meu pai. E foi assim até ele morrer.

  • Como a Itatiaia conseguiu acompanhar e manter a fidelidade do ouvinte durante 60 anos?

A Itatiaia nunca pertenceu a grupos políticos, religiosos ou econômicos. Sempre foi independente.  Foi criada com a proposta de ser uma rádio de rua, feita de jornalismo, de informação, de prestação de serviço e de esporte, carro-chefe da emissora. Tem como seu valor máximo a frase: “nós vendemos espaço, não vendemos opinião”, dita por Januário no dia de sua inauguração. Ouvir os dois lados da informação, dando espaço para as opiniões divergentes, foi também um diferencial criado pela Itatiaia e que lhe deu a credibilidade de hoje.

  • A Itatiaia inovou também no esporte e no jornalismo.

Sim. Ocupamos espaços que as outras emissoras não se interessavam, como a transmissão do esporte especializado e a cobertura de reuniões na Câmara Municipal, na Assembléia Legislativa, sempre com muita independência, colocando no ar assuntos que não interessavam as outras emissoras, mas eram de interesse da população. O Januário tinha também muita paciência para ensinar os mais novos. Ele trazia gente jovem, estudantes, pessoas que não tinham oportunidades em outras emissoras e que se tornaram grandes profissionais. É esta trajetória que nos fez chegar aqui, aos 60 anos, com liderança e com uma empresa muito sadia financeiramente. Mas nada seria possível sem as pessoas que trabalharam e trabalham aqui. O que faz o rádio pulsar são as pessoas que trabalham nele.

  • O que mais ameaçou o rádio, a chegada da TV ou a internet e mídias sociais?

O rádio sempre foi muito interativo. Põe o ouvinte no ar ao vivo para opinar, reclamar, criticar, elogiar. Ele é uma avenida de duas mãos: você manda o som, mas também ouve o eco, o retorno do ouvinte. Ele enfrentou brilhantemente a concorrência da televisão. Ocupava lugar de destaque na sala de cada lar, perdeu espaço para televisão e foi para o quarto, cozinha, ficou portátil, foi para o local de trabalho, para o carro. Lutou bem com as armas que tinha. Quando veio a internet, nos assustamos porque a novidade era fantástica. A grande estratégia da Itatiaia foi utilizá-la como aliada e não como concorrente. Transmitimos nossa programação ao vivo pela internet e por celular. Temos uma ótima audiência no Brasil e no mundo. Estamos com nossos sons nos aplicativos do iphone, nos canais a cabo, podemos acessar a Itatiaia na TV, através da Net, Sky e Embratel.

  • Que futuro vê para o rádio diante das mídias sociais?

Tem um lado mal informado achando que o rádio está em decadência, que é um veículo antigo. Nada disto. O que eu posso dizer é que o rádio tem muito mais audiência hoje. Ele se segmentou. Hoje tem emissora que toca só música sertaneja, rock, MPB, há também as religiosas, as que transmitem notícia 24 horas. Tem rádio para todos os gostos. Então o público está muito bem servido por este aspecto e até pela abrangência, pela entrada de novas possibilidades como já citei. Uma aposta que a Itatiaia está fazendo e tem recebido um retorno muito grande é dar informação de trânsito em tempo real. Um grande aliado é o telefone celular. Ele deu uma velocidade muito grande à notícia. Quando o ouvinte vê um acidente, por exemplo, não precisa mais se deslocar até um orelhão para informar à rádio.  Então o rádio está muito vivo. Isto em termos de conteúdo.

  • E em termos de tecnologia?

Estamos esperando o Ministério das Comunicações decidir qual será o sistema digital que o Brasil vai utilizar. Tanto o americano como o europeu são muito bons.  Com esta nova tecnologia, poderemos inserir no display do celular ou do rádio do carro, letreiros digitais com informações adicionais, como quem está cantando a música que está sendo ouvida, o placar do jogo, a cotação do dólar, a previsão do tempo. E a qualidade do som será bem melhor. Isto é uma novidade que vai chegar, mas que nos Estados Unidos já tem 10 anos e é um sucesso.  Tudo no Brasil demora excessivamente e a história do rádio digital é uma delas.

  • Quais são os projetos da Itatiaia para 2012?

Estamos duplicando a potência da estação de FM. A Itatiaia funciona AM e FM simultaneamente, com equipamento de última geração. Também estamos fazendo remanejamento de equipamentos na nossa emissora de AM. Tudo vai melhorar. E o que nos move muito é a cobertura esportiva e jornalística. A gente tem acompanhado as visitas da presidente Dilma ao exterior, compramos o direito de transmissão dos jogos Olímpicos de Londres, estamos cobrindo o Campeonato Brasileiro de Futebol e toda a preparação para a Copa do Mundo. Há também uma grande preocupação com a violência, que está trazendo uma ansiedade muito grande à população. As pessoas estão colocando cercas, alarmes, blindando carros. Até nas escolas já não há mais segurança. E a Itatiaia está registrando tudo isto e cobrando das autoridades. É o nosso papel neste momento.

  • O senhor é o primeiro mineiro a presidir Associação Brasileira de Empresas de Rádio e Televisão (Abert). Fale um pouco sobre sua atuação.

Meu irmão Januário foi durante muitos anos vice-presidente da Abert, entidade que nasceu com o objetivo de defender a liberdade de expressão, de imprensa. Depois que ele morreu, passei a representar a rádio Itatiaia. Fui vice-presidente em dois mandatos e me convidaram para ser presidente. Tenho orgulho de representar a rádio e a televisão de Minas na Abert, em Brasília. Mas não sou candidato à reeleição. Quanto a minha atuação, temos debatido diversos assuntos, como a liberdade de imprensa e coisas que afetam o dia a dia do rádio e da televisão. Estamos trabalhando para que o governo defina qual será o sistema brasileiro de rádio digital e brigando pela flexibilização do horário de transmissão do programa a Voz do Brasil. Vamos fazer um Congresso de 19 a 21 de junho, cujo tema é os 90 anos do rádio no Brasil. Estamos prontos para comemorar também em 2012, os 50 anos da Abert e preparando novidades.

  • Deixe uma mensagem para a população de Nova Lima.

Estou sentindo que a população está um pouco distante do Villa Nova. Ele foi criado em 1908 e é um grande orgulho para a cidade. É mais conhecido no Brasil do que Nova Lima. Mas não consegue ganhar títulos há vários anos e foi perdendo torcedores. Mas o Villa está vivo. É preciso que a população perdoe seus erros e volte a amá-lo e brigar por ele como nos tempos antigos. É uma luta manter um time profissional. Quantos desapareceram através dos anos. E o Villa está ai firme e forte. Nunca fez nada que manchasse sua história e tradição. Sempre teve uma dignidade absoluta. Ele é o segundo time de todos os torcedores mineiros. Mas tem que ser o primeiro do nova-limense.

Por Goreti Araújo | Foto Emanuel Carneiro: Welber Moreira | Foto Chamada: Divulgação

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