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O renascimento do parto

Edição 09 27/12/2013 SAÚDE

 

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 “Para mudar o mundo é preciso antes, mudar a forma de nascer” (Michel Odent)

 

Por: Natália Rosa

Fotos: Arquivo pessoal

 

Em geral, o sonho de toda mulher é ser mãe. No entanto o cenário materno sofreu muitas alterações nos últimos tempos. Mães jovens, mães- avós, mães despreparadas, mães com muita experiência. Não importa em qual situação a gestante se encontra, fato é que ela busca condições de realizar esse sonho da maneira mais simples e humana.

 

É nesse contexto que voltamos no tempo para recordar as parteiras, doulas, e dos partos realizados em casa. O tão esperado trabalho de parto era temido e muitas vezes complicado, devido às dores fortes. Muitas vezes até traumático, porém não havia muitos recursos para que a situação fosse diferente. A família acionava a parteira e as futuras mamães contavam com sua experiência e também com a sorte.

 

A falta de técnica, equipamentos e medicamentos poderia ser prejudicial à gestante e consequentemente ao bebê. E foi assim, através de muitos estudos e pesquisas, que a situação foi se modernizado. Ainda no século XVI, o cirurgião francês Peter Chamberlen criou o primeiro fórceps, ou seja, o primeiro instrumento utilizado para auxiliar a retirada do bebê na hora do parto. Já no século XX, uma nova revolução aconteceu com a chegada de um novo procedimento, a cesárea. A cirurgia era utilizada apenas em situações de risco e, aos poucos, foi se tornando uma prática comum aliada aos processos de anestesia e esterilização.

 

O êxito das cesarianas foi se tornando cada vez maior e a cirurgia foi se firmando até deixar de ser uma intervenção séria necessária num procedimento técnico e rotineiro. Entretanto, o cenário tende a mudar. Mulheres e profissionais da saúde estão cada vez mais voltados para o bem-estar da gestante e do bebê.

 

Atualmente, mesmo com os avanços tecnológicos disponíveis na medicina o parto normal volta a ter um espaço importante dentro das possibilidades vistas pelas mulheres.

 

Há quem diga que a cesariana não pode ser mais vista como um avanço irrefutável da medicina. De acordo com a enfermeira obstetra Míriam Rêgo, antigamente o costume não permitia que as mulheres pudessem escolher a forma de nascimentos dos seus filhos. “Houve também uma transição de formas assistenciais, pois cientificamente as condições para se ter um bebê melhoraram, os riscos se tornaram cada vez menores resultando num ganho para a medicina e consequentemente para os pacientes. Porém, essa demanda de cesarianas cresceu e passou a ser uma prática rotineira”. 

 

Nesse contexto a mulher deixa de ser a protagonista de sua própria história para dar espaço às funções médicas e hospitalares. “A gestante perde seu papel principal e o transmite para o profissional, perdeu o lado humano. O parto deveria ser um evento familiar e emocional, onde a mulher se sinta acolhida e segura”, explicou a enfermeira. Míriam defende ainda que devido às mudanças, o parto passou ser temido e sofrido.

 

Com o passar do tempo, as mulheres também começaram a questionar as medidas e meios de ser ter um bebê, principalmente pelo fato de a maioria delas ter um sonho por trás de uma barriga enorme. E, assim, veio o desejo de viver esse sonho de forma mais real possível, com detalhes e requintes. “As mulheres são responsáveis pela mudança. Elas começaram a indagar sobre o domínio de seu próprio corpo e do ambiente para que tenham um cenário perfeito. E o meu trabalho consiste em trazer essa segurança profissional seja em casa ou até mesmo nos centros de partos”, salientou

 

Humanização dos partos

 

Pesquisas indicam que a opção pelo parto normal reduz o risco de uma série de complicações e produz um impacto psicológico positivo na mãe e na criança.

 

Segundo a enfermeira Janaína Gomes, o parto humanizado respeita os direitos e as peculiaridades de cada mulher ao entender que ela é a protagonista do fato, portanto ela precisa se sentir segura e confortável. “O parto é norteado pelas boas práticas da assistência baseadas em evidências científicas e, neste sentido o parto deve acontecer em um ambiente de sua preferência, seja em casa ou mesmo no hospital”, avaliou.

 

A mulher é o foco, por isso pode e deve escolher dentre suas possibilidades o que mais lhe traga benefícios. Para Janaína Gomes, “as boas práticas na assistência estão baseadas em garantir à mulher um acompanhante de sua escolha, deixá-la livre para assumir qualquer posição que considere confortável, oferecer métodos não-farmacológicos de alívio a dor (massagem, banho no chuveiro ou na banheira, uso da bola de Bobath, caminhar) oferecer apoio emocional, permitir o contato pele-a-pele da mãe com o bebê após o nascimento, estimular amamentação na primeira hora”. 

 

Porém, ela explica ainda que nem todo parto humanizado é natural, em alguma situação a mulher pode e tem o direito de recorrer à analgesia e, necessitar de alguma intervenção em caso de intercorrência, como por exemplo, um parto normal assistido com fórceps ou vácuo extrator, sendo encaminhada a um hospital. Independente da forma, a enfermeira obstetra Míriam Rêgo lembra que a experiência do parto deve ser prazerosa, marcante e transformadora.

 

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Parto domiciliar

 

O parto domiciliar também é considerado um tipo de parto humanizado. Pode ser considerado o ápice da humanização. “É individualizar a assistência, perceber que cada mulher, casal, família tem sua própria história, suas características, seus desejos e anseios e, construir juntos uma maneira diferente de assistir é respeitá-los inteiramente”, declarou Janaína.

 

Mas nem tudo são flores. Embora o parto realizado em casa tenha muita aprovação por parte de profissionais da saúde, a cultura traz o medo. A falta de informações colabora para que essas mulheres não saiam de um conceito de senso comum e até de ignorância de conhecimento. “A maioria das mulheres tem medo da dor do parto, mas não buscam informações sobre quais as alternativas existem para lidar melhor com a dor durante o processo de trabalho de parto”, revelou Janaína.

 

De acordo com Míriam, o parto domiciliar é indicado para as mulheres ou casais que realmente desejam viver o passo a passo desse acontecimento, da experiência natural e que deseja participar ativamente do momento do nascimento. “Vale ressaltar que o local é apenas coadjuvante, o papel principal é da mulher. Nossa luta é para que a mulher seja uma participante ativa e nunca privada de viver essa experiência”, declarou.

 

A Organização Mundial de Saúde – OMS recomenda que a mulher deva ter seu bebê em um local onde ela se sinta bastante segura e no nível mais periférico de sua residência, para o caso de qualquer intercorrência. Por isso, caso haja necessidade da mulher ou do recém-nascido serem encaminhados ao hospital é preciso que tenham sempre um veículo à disposição, o que a equipe deixa claro como alerta e exigência durante as visitas ao longo da gestação. No entanto, “o índice de transferência é pequeno e a maioria não é considerada de urgência”, revelou Míriam.

 

 

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Mitos e medos

 

Para a mulher que opta pelo parto natural, há os métodos não-farmacológicos de alívio a dor.

 

A especialista explica que existem fatores importantes e que muitos ainda desconhecem. “A mulher quando está relaxada, segura e confiante, ocorre à liberação de um hormônio que se chama ocitocina, conhecido como o “hormônio do amor”, este hormônio favorece as contrações, e consequentemente contribui de maneira positiva para o trabalho de parto. Em contrapartida, quando a mulher está tensa, insegura e com medo, há uma descarga de adrenalina no organismo que inibe a ação da ocitocina, o que reconhecemos como um ciclo vicioso de tensão, medo e dor”, contou.

 

Rivânia Rosa é mãe de dois garotos. Marinheira de primeira viagem e sem muitas informações sobre a maternidade, ela viveu, em sua primeira experiência, uma cesárea intraparto, que é uma cesárea após o trabalho de parto. Para ela, foi apenas uma cirurgia. “Cesárea não é parto. A cesárea foi uma violência obstétrica, eu estava preparada para o parto normal, mas o médico optou pela cesárea, o que eu imaginava que seria apenas em caso de risco de vida”, declarou.

 

Após longa depressão, ela se recuperou e novamente pode viver uma gestação. Rivânia conta que estava se preparando para mais uma cesárea, pois o mito difundido diz que “uma vez cesárea, sempre cesárea”. Durante um debate sobre partos, onde ela defendia a cesariana, Rivânia foi surpreendida por uma ativista do parto natural que explicava sobre parto humanizado. Com algumas informações complementares e a decisão estava tomada. O segundo filho viria através de um parto natural.

 

Foi assim que tudo se transformou. “Estudei a gravidez inteira para desfazer os mitos. Escolhi por parto domiciliar com 20 semanas de gravidez. Convidei a equipe de enfermeira obstetra para um café, e eu e meu marido chegamos à conclusão que o parto mais seguro para mim, era o parto domiciliar assistido”, revelou Rivânia.

 

Segurança

 

A mulher pode realizar o pré-natal como ela preferir, com o médico ou com a enfermeira obstetra, na rede pública ou particular. A mulher precisa estar segura e confiante para o momento do parto. A equipe realiza duas consultas pré-natais, após 37 semanas, quando fica estabelecido que deseja ter o parto em casa. Rivânia fala da importância das consultas que antecedem o parto. “Minha primeira consulta durou quatro horas e eu nunca havia sido tão bem cuidada por profissionais da saúde. Foi lindo e essencial. A equipe de enfermeiras obstetras que fez meu parto sabia até o nome dos meus animais de estimação. Elas entraram na vida da gestante”, concluiu.

 

Sem nenhuma intervenção cirúrgica e com métodos naturais de alívio a dor durante o trabalho de parto, a sensação vivida foi completamente diferente de anos atrás. “Eu entreguei meu plano de parto para a equipe, a doula e as enfermeiras obstetras-EOs. Elas sabiam como eu queria meu parto. E fizeram tudo o mais próximo dos meus desejos de gestante. Meu marido foi o primeiro a pegar nosso filho, conforme eu havia sonhado”, lembrou Rivânia.

 

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“Passei metade do meu

trabalho de parto na água

quente, submersa

na hidromassagem.

A água alivia demais

as dores das contrações.

Foi preciso trocar a água,

para o bebê nascer

na água limpinha.

Eu vim pra cama

e não quis mais sair.

Nasceu na minha cama”.

 

Emocionada, a mamãe mostra que foi além do que ela poderia imaginar. Assim, também foi o repouso e o pós-parto. “Eu nunca fui tão feliz! Passei o resto da tarde deitada, por que eu quis. Amamentei meu bebê, ficamos nós três na cama. O meu parto domiciliar me mostrou que sou a dona de mim mesma, do meu corpo, e sou capaz de construir e desconstruir tudo aquilo que eu julgar como sendo necessário. Sou uma nova mulher!”, concluiu ela, que já avalia a possibilidade de viver a próxima experiência.


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