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O Gabo é nosso

Edição 11 27/06/2014 ALISSON DIEGO

Eu amo a literatura. Foi amor ao primeiro contato. Desde que passei a soletrar as primeiras sílabas, no pré-escolar com a tia Helenice, ler tem sido um dos meus maiores prazeres.

Desde então, acho que nunca passei um dia sequer sem ler pelo menos uma página literária. Mais que um gosto, a literatura passou a fazer parte de minha vida como um amuleto indissociável, uma espécie de tatuagem extracorpórea, um amor mesmo.

Dos sete aos quinze anos, li de tudo. Monteiro Lobato e outros clássicos da literatura infantil, histórias das vidas dos santos, quadrinhos, mangás e tudo que um guri pode e não pode ler nesta idade.

Aos dezesseis anos, tive o primeiro contato literário com Gabriel García Marquez, através de dois contos dele. Posso dizer que esse contato foi decisivo para reafirmar o meu amor literário. Para quem se acostumara com as aventuras de Guliver e estórias afins, romper o cordão umbilical com a literatura infanto-juvenil era um desafio amedrontador (já havia lido tradicionais autores “adultos” sem me interessar substancialmente por nenhum). Aquele “pequeno” contato preliminar com Gabo foi o suficiente para me deixar positivamente atordoado. Com García Marquez, aprendi que a literatura de adulto não era sempre chata. Ao contrário, podia perfeitamente ser prazerosamente desfrutada. A partir de Gabo, descobri a literatura de adulto. A partir de Gabo, outros escritores como Guimarães Rosa, Machado de Assis, Graciliano Ramos, Jorge Amado, Lima Barreto, Cervantes, Shakespeare, Saramago e outros grandes da literatura se descortinaram para mim no auge da adolescência.

Aos 20 anos, tornei a ter contato com Gabo ao ler empolgadamente a sua recém lançada novela. Tendo um prostíbulo como cenário, Memórias de Minhas Putas Tristes foi uma leitura surpreendentemente sensível e humana, ao contrário do que o título poderia sugerir. A partir daí, li praticamente toda a obra literária de Gabo e me apaixonei pela narrativa original e pela riqueza temática. As personagens do escritor, por mais irreais que possam parecer, carregam consigo características comuns a todos nós. E o leitor, de repente, se reconhece ali.

Singularíssimo e genial, Gabriel García Marquez deixou-nos um legado literário inestimável que jamais pode ser olvidado. Poucas horas após sua morte, Colômbia e México disputaram as cinzas do escritor. Lamento dizer aos colombianos e mexicanos que Gabo não pertence nem a uma e nem a outra nação. Gabo é universalmente da América Latina. Gabo é nosso.

Nenhum outro escritor ou pensador do México ao Uruguai, do norte ao Sul da nossa América Latina, retratou com tanta sensibilidade literária a realidade crua e mágica de nosso povo latino-americano. E Gabo o fez com maestria e peculiaridade impressionantes.

Não escrevia para buscar a fama ou a notoriedade. Ao contrário, gostava do recato e da discrição. Tampouco escrevia para se libertar (como fazem questão de dizer alguns escritores, dando a entender que o ofício literário mais se assemelha a uma tortura medieval). Para Gabo, escrever era prazeroso, esse era o ofício que amava e ao qual se dedicava com gosto.

Sempre soube o que queria: escrever, contar histórias, tecer estórias e criar, como um artesão, a sua arte em forma de palavras-frases-textos-livros.

Há uma conexão indestrutível que nos une, todos os latinos, a Gabriel. Ele que mostrou ao mundo essa América Latina colorida, sofrida, alegre, mágica e real; ele que não desistiu em nenhum momento de acreditar em seus sonhos e na construção de um outro mundo possível. Ele que diplomaticamente não arredou o pé de buscar a paz em seu país; ele que acreditava como ninguém no amálgama cultural que faz de nós uma mesma América.

Por meio do instrumento mais belo e sensível, as letras, com humildade e destemor, o prêmio Nobel ensinou-nos além: ensinou-nos a nos amarmos enquanto povo e a acreditarmos na fraterna unidade latino-americana.

O Gabo é nosso.

Alisson Diego Batista Moraes

Advogado, poeta e autor de "Primeiros Poemas" e "O tempo e as estrelas".

MBA em Gestão Empresarial pela Fundação Getúlio Vargas.

Graduando de Filosofia pela Universidade Federal de São João Del Rei

 

alissondiegobatista@yahoo.com.br 

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