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Idealismo, manifestações e suas diversas faces

Edição 08 11/09/2013 ARTIGOS

Idealismo, manifestações e suas diversas faces

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Por
Camila Tenório Cunha - Professora do Instituto Federal, campus São João da Boa Vista/SP
Laís Vitoria- Estudante do Ensino Médio/ SP
Carola Castro- Cientista do Estado/UFMG
Ilustração: Elder Marques

Cada geração tem que lutar para reconquistar sua liberdade. Mas será essa a forma de luta?

O que me assusta é a forma como estamos lutando no atual momento. A minha geração precisa lutar pra reconquistar sua liberdade, mas não sabe contra quem e nem o porquê. O mais agravante é não sabermos: qual a liberdade que queremos?

Deveras que possa parecer exagero, mas é essa mesma a sensação que o ilusório pode trazer. Liberdade, democracia, igualdade, fraternidade. Todas faces da mesma moeda trocada. Nenhuma real, todas forjadas. O tempo achou jeito de deixá-las mais aceitáveis, porém cada vez mais distantes. Princípios que soam incômodos aos ouvidos de uma elite que perdura e que não deseja perder o postulado. E que infelizmente vão se juntando ao senso comum e tornando-se vontade geral. Vontade de quê? De permanecermos na miséria, de sermos prisioneiros de um modo de vida, ou de nossa própria violência? Ignorância, fascismo?

O que não queremos enxergar é que reproduzimos os discursos dessa mesma elite. Deste modo não defendemos nosso próprio povo. Estamos criminalizando nossa própria condição ao não aceitarmos que a transformação pode vir de gente igual a nós. Eles continuam ditando a regra e nós continuamos cumprindo. Quando vamos nos libertar? Vamos lutar pela nossa liberdade ou vamos deixar para a próxima geração, como o fez a geração de 40? Porque afinal, parece que estamos incentivados pela mídia igual à geração de 40, como Vargas fazia com suas propagandas. A diferença é que agora a mídia representa as elites, que querem continuar no poder.

Quando acordarmos será tarde, além da nossa própria liberdade perdida, estaremos jogando para o alto a liberdade conquistada por uma geração que lutou muito, inclusive com a própria vida, para conquistá-la. Teremos condenados nossos heróis e alienado o futuro de uma geração que ainda não pode se defender. Seremos assim os monstros da história. Do futuro e do passado. E continuaremos no presente morno, manipulado e ainda sem direito a esperança.

A democracia é uma conquista. Uma glória. Uma vitória. Com todas as limitações que ainda encontramos nela, sem dúvida é uma construção de uma geração que ousou levantar a voz, redigir a história, e, depois, ousou fazê-la de verdade. Estamos vivendo um momento ímpar, na construção do nosso país. Porém, essas forças que se encontram na rua neste momento, precisam canalizar os esforços para melhorias, e, não para o caos.

Manifestar é um ato de indignação contra algo que é preciso mudar. Para manifestar é preciso que todo movimento concorde com relação ao objetivo e o deixe claro, saiba quais ações são efetivas, como tomá-las, sabendo e medindo as consequências para cada ação, planejando o futuro.

As manifestações para a chamada da discussão sobre passe livre, válidas, poderiam ter ido até o momento em que as pessoas do movimento foram chamadas para o diálogo e as buscas de soluções, concretas. Deixando em aberto o caminho para que se continuasse a discussão no que seria interessante no futuro: um passe livre nos transportes coletivos para toda população.

Todavia, segundo pessoas que são deste movimento há anos, disseram que ele foi invadido por outros que estavam nele sem sequer conhecerem as discussões mais profundas deste e outros assuntos de interesses coletivos. Alegaram, também, que apareceram placas e pessoas reivindicando outros assuntos, cada um por si, sem um interesse coletivo, organizado.

Stéphane Hessel disse: “O interesse geral deve sobrepujar o particular, e a justa divisão das riquezas criadas pelo mundo do trabalho deve primar sobre o poder do dinheiro.” (Trecho do livro “Indignai-vos”, página 13). Então, toda manifestação deve se organizar pensando num benefício coletivo, a curto ou longo prazo, mas ela é só uma etapa, a que antecede um diálogo, um projeto de lei, a criação de uma petição pública, etc., para mantermos o processo democrático.

Estas manifestações não estão alcançando benefícios coletivos porque já saíram do controle dos seus primeiros idealistas. Queimaram ônibus, sendo que a preocupação principal era a qualidade do transporte público. Lógico que quem os queimou não seria dopróprio movimento passe livre, mostrando que a busca pela liberdade da nossa geração destoa das nossas formas legitimas de participação.

Talvez, quem estivesse no movimento passe livre também nem estivesse contra a Copa, afinal, muito dinheiro dela foi para melhoria coletiva de mobilidade urbana, e, como eles discutem um financiamento para transporte gratuito, deveriam saber que a Copa traria dinheiro, reconhecimento internacional, além de chances de concretização deste transporte público melhorado.

Depredação de patrimônio da humanidade não trará as melhorias desejadas pelo movimento, trará apenas indignação internacional: como eles podem destruir o que pertence a todos? E ações que trarão mais gastos públicos? Enquanto procuram maior verba, destroem patrimônios? Os problemas de saúde, educação, estiveram piores em tempos atrás, por que reclamar agora de um problema secular brasileiro? Além disso, o dinheiro usado na construção dos estádios que serão utilizados para a Copa veio de empresas privadas.

A discussão deve estar sempre presente, mas discussão não é depredação. As formas de buscar soluções devem sempre levar em conta todo um conjunto da população, e a verdadeira raiz desses problemas. Será essa nossa forma de lutar pela liberdade, e pela melhoria? Destruindo tudo que já conquistamos? Derrubando a democracia brasileira?

Qual a liberdade que queremos? Qual é o nosso ideal conjunto? Onde queremos chegar? Será que sabemos realmente onde queremos chegar com “estas” manifestações?

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