Página PrincipalA Revista Cadernos SAÚDE Hiperatividade ou Transtorno
Por Natália Rosa
Ilustração: Elder Marques
O controle remoto da televisão dura pouco. Tão logo é trocado, começa novo sofrimento, nas mãos de A, um adolescente que sofre de Transtorno do Déficit de Atenção com Hiperatividade, ou simplesmente TDAH. E não precisa de muito tempo para que o equipamento esteja totalmente destruído, por mordidas, teclas arrancadas, estojo de baterias danificado, feixe de luz ineficiente...
Quando criança, o comportamento irrequieto e impulsivo era até elogiado, incentivado como sinônimo de esperteza – para alguns. Não é. A dificuldade de ficar quieto, de prestar atenção em algo específico como à aula do professor ou ao desenho na tevê, a ação sem reflexão anterior sobre as consequências não tem nada a ver com falta de limites. É um mal.
Um mal reconhecido pela Organização Mundial da Saúde, pela Associação Médica Brasileira, pela Associação Brasileira de Psiquiatria, pela Academia Brasileira de Neurologia e pela Academia Brasileira de Pediatria, entre outras como um transtorno neurobiológico, de causas genéticas, que aparece na infância e frequentemente acompanha o indivíduo por toda a sua vida. Ele se caracteriza por sintomas de desatenção, inquietude e impulsividade.
Conhecer para poder ajudar
Calma, não se culpe se não percebeu o problema logo de cara, mas é importante saber que o TDAH ocorre em 3 a 5% das crianças, das mais diferentes regiões do mundo e mais frequentemente em meninos do que em meninas. Assim como em outros casos, a informação – saber com o que se está lidando – é a principal ferramenta, especialmente dos pais.
Segundo a terapeuta ocupacional, inscrita no Conselho Regional de Fisioterapia e Terapia Ocupacional de Minas Gerais – CREFITO - MG - Janaína Prates, para iniciar um processo de ajuda aos pacientes é necessário respeitar as diferenças. “São os pais e a escola que precisam se adaptar à criança e não o contrário”, afirma.
Rotulado como mal educado, levado e até rebelde o paciente pode camuflar negativamente o déficit. O fundamental papel da terapia começa assim que o diagnóstico é definido. “Nossa função é orientar os pais e organizar o ambiente, ou seja, substituímos alguns fatores para que a criança possa se sentir fruto do meio. A criança não pode rabiscar a carteira, certo? Então, nós providenciamos um bloco de rascunhos. Assim, vamos criando um novo limite para elas”, pontua.
Em casa, os pais conseguem adaptar melhor o ambiente para cuidar do filho. Já na escola o processo é mais complicado, devido à quantidade de alunos. Nesse caso, os psicopedagogos defendem a necessidade de um preparo para acolher os pacientes do transtorno, possibilitando condutas diferenciadas. “A professora pode pedir que o aluno faça um favor a ela fora da sala de aula e tentar atrair a atenção do aluno para que ele não se perca e nem tire o foco do restante da turma” ressalta a psicopedagoga, Regina Caldeira Couto e Silva.
A raiz do problema também precisa ser tratada. Segundo a Presidente da Seção de Minas Gerais da Associação Brasileira de Psicopedagogia, Regina Caldeira Couto e Silva o objetivo maior da associação é esclarecer e acompanhar os professores, profissionais da área e os pais em relação aos portadores de TDAH. “As crianças não podem ser consideradas como diferentes, pois avaliamos que elas possuem capacidade de frequentar a escola em conjunto com os demais alunos”, pondera.
O TDAH pode ser herdado geneticamente, mesmo sabendo que as suas causas não são claras. Independentemente da origem, ele aparece enquanto o cérebro está se desenvolvendo.
Além disso, a maioria das crianças com o transtorno também sofre de pelo menos um outro problema de comportamento ou de desenvolvimento. Ainda podem apresentar um distúrbio psiquiátrico, como depressão ou transtorno bipolar. A falta de sono, incapacidade de aprender, tiques e problemas comportamentais também precisam ser avaliados, pois podem ser confundidos com TDAH.
O acompanhamento com o profissional é fundamental. Em alguns casos o psicólogo poderá encaminhar a criança para desenvolver atividades esportivas e criativas, como foi o caso do garoto de cinco anos, Caio Camargos, “depois que a escola me alertou quanto ao comportamento diferenciado de meu filho eu logo busquei ajuda psicológica e fui orientada a colocá-lo em uma escolinha de futebol. Através do esporte ele consegue trabalhar concentração e desenvolve a parte motora gastando energia com qualidade”, conta animada a mãe, Roberta Camargos.
O que não pode faltar é carinho
Não é fácil perceber que a criança apresenta o transtorno. A comparação com outras crianças e a rejeição pode gerar até depressão nos portadores do TDAH. Por isso, a família e a escola precisam estar atentas em relação às questões que envolvem os pacientes e também ao bullying.
Nesse contexto, o ato de medicar tem sido alvo de grande preocupação para os estudiosos da área. O Conselho Regional de Psicologia de Minas Gerais defende que o TDAH, assim como outros distúrbios, é resultado de questões sociais, complexas e multifatoriais ocasionadas pelo tempo e pela cultura. Diante dessa visão o Conselho se coloca contra a medicalização, “não podemos resolver todos os problemas através de remédios. A questão é social, política e econômica e está mascarando a realidade, ou seja, tudo aquilo que não se adéqua ao padrão social já estabelecido acaba se tornando uma doença que carece de tratamento por medicalização”, esclarece a psicóloga e conselheira Maria de Fátima Boschi.
Carinho, no entanto, é o grande remédio que essas crianças vão encontrar através de seus familiares. “Apesar da dificuldade que encontramos em lidar com a hiperatividade, nós conseguimos tratá-lo carinhosamente e sem diferenças, afinal essas crianças são especiais, especiais como qualquer outra criança”, declara Roberta.
Sintomas que podem levar ao diagnóstico de TDAH
Desatenção
Hiperatividade:
Impulsividade:
Feminilidade
Beleza e Estética
Engenharia Civil
Língua Portuguesa
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