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Era uma vez...

Edição 06 20/12/2012 ARTE E CULTURA

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"Dentro da literatura não há diferença entre mãos e asas; se pode desenhar e voar através das palavras."

 

Por Natália Rosa
Fotos: Divulgação

 

Numa terra não muito distante, crianças que viviam debruçadas em computadores, televisões e videogames. Elas estavam aprisionadas naquele moderno castelo tecnológico. Até que um dia, uma dessas crianças encontrou um livro velho, empoeirado, e começou a ler. Rapidamente ela criou asas e voou para bem longe dali. 

Através da leitura, a criança amplia sua capacidade de compreender o mundo. Pesquisas realizadas em vários países mostram que a criança que, desde cedo, tem contato com os livros e possui hábito de leitura é beneficiada, ou seja, ela adquire facilidade de aprendizado, pronuncia melhor as palavras e se comunica de maneira correta. “A leitura permite que a criança desenvolva de forma efetiva a criatividade e a imaginação, por meio de conhecimento, valores e culturas”, afirma a pedagoga e professora do ensino infantil, Margot Demóstenes. 

A literatura infantil é recheada de grandes histórias e marcada pelos contos de fadas. Essa ideia de princesas, príncipes, bruxas e feitiços traz a remota ilusão de que a vida se resume num aspecto que não existe, diferentemente das histórias que trazem em suas narrativas uma realidade vivida pelas crianças em seu dia a dia.

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Saulo Sabino em apresentação no musical "Viva a Fauna"

Os contos de fadas, as mil e uma noites, são apenas algumas facetas da chamada literatura infantil.  O modelo literário vem sendo construído ao longo dos tempos, apesar de opiniões contrárias que já chamam atenção e provocam debates.  

Segundo a psicanalista, Regina Navarro, é um grande erro contar as fábulas encantadas para as crianças. No caso das meninas, ela aponta que a ideia central dos contos subestima a capacidade das mulheres, onde elas ficam o tempo todo esperando um socorro de um homem, gerando assim dependência e submissão. Já no caso dos meninos a pressão existe pela busca incessante de um super herói. Por mais que exista um desempenho ímpar desses garotos a frustração ocorrerá, “o que nasce no imaginário das crianças sobrevive na fase adulta”, conclui a psicanalista.  

As histórias infantis precisam alçar voos altos no imaginário das crianças, pois elas necessitam em algum momento acreditar que a narração é real, e se encaixar naquele contexto, seja através do ambiente ou como um personagem. Os renomados escritores Monteiro Lobato, Maurício de Souza e Ziraldo aquecem essas fábulas permitindo que os leitores criem uma moldura real e participativa diante dos textos. 

“Meus livros, veleiros disfarçados. Pegue sua mochila e venha viajar com eles”, sugere a escritora itaguarense, pós graduada em Literatura Infantil e Juvenil e mestra em Literaturas de Língua Portuguesa, Neusa Sorrenti. Ela defende o equilíbrio dentro da literatura, ou seja, é preciso uma boa pitada de realidade com um incremento de fantasia resultando numa mistura saudável para leitura. 

Existem, dentro da literatura, algumas vertentes do realismo. O realismo cotidiano, que é o dia a dia da criança ocupando um ambiente próximo e peculiar dentro das narrações, é uma delas. Há também o realismo maravilhoso, que são as fábulas irreais - os contos de fadas. “Entre eles tem ainda a mescla entre o realismo cotidiano e o mágico, fácil de perceber nas histórias de Lobato quando existe uma história real que se rompe à medida que a boneca de panos começa a falar e que o sabugo de milho faz contas matemáticas. Essa é a fusão do real com o transreal”, conta Neusa. 

 

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Sandra Lane

Elementos da natureza são sempre atrativos para as crianças tornando o ambiente característico. Dessa forma elas identificam e familiarizam como integrante da história. A contadora de histórias, Sandra Lane, em suas apresentações oferece ao público a possibilidade de inúmeras leituras através de fantoches, teatro de sombras e, claro, através de suas narrações. “O que gosto mesmo é daquela literatura que consegue deslumbrar o nosso imaginário, onde de repente a gente se sente surpreendido porque se descobre dentro do texto”.

 “o que nasce no imaginário das

crianças sobrevive na

fase adulta”

 

Os contos de fadas têm em sua essência uma relação forte com a realidade de seu tempo e, principalmente, retratam uma cultura distante. Segundo o compositor e cantor Saulo Sabino, as histórias encantadas pertencem à outra cultura. “Li tudo a respeito e guardo as melhores lembranças, mas meu imaginário infantil cresceu a partir da visão literária de Monteiro Lobato. Minha visão de um mundo maravilhoso não está em um castelo da Baviera, mas nas terras do Sítio do Pica-Pau Amarelo”, afirma Saulo. 

A literatura cantada de Saulo Sabino abre espaço para outro viés de imaginação, “antes da canção, fui uma criança apaixonada por livros, o que foi fundamental. Ganhei meu primeiro livro de minha avó e se chamava A Pata da Onça. Fui alfabetizado cedo para a época, por minha mãe – professora, e jamais me esqueci da textura do papel, as cores, o texto da história. De imediato queria ser capaz de montar histórias como aquela. De lá para cá foi um pulo virar compositor e cantor de histórias”.

O imaginário coletivo brasileiro - que é a fonte dos personagens, lendas e mitos- não perde em criatividade e riqueza diante das fábulas europeias. Os tradicionais contos de fada transferem crueldade, onde, por exemplo, madrastas são sempre más. A maioria dos contos, lendas e mitos brasileiros remete à cultura tupi-guarani e caboclo-negra-sertaneja, com riqueza de construção. O cantador de histórias, afirma ainda que “pode parecer mais palatável contar para crianças sobre Joãozinho e Maria, abandonados pelos pais numa floresta, onde encontram outro adulto que tem por objetivo comê-los. Finalmente - pasmem - eles são capazes de dar cabo da velhinha comedora de crianças e de se apropriarem da sua casa. Como literatura é genial, mas bem mais cruel e menos edificante do que o boto que se transforma em moço bonito para dançar e namorar as moças nos bailes. Ou do Curupira, que pega pesado com caçadores por ser protetor das matas e dos animais,” completa.

O importante, ao final, é que crianças precisam de condições para serem crianças. Não basta ter acesso às tecnologias e desfrutar de presentes especiais, é preciso criar uma estória ao lado delas agregando capacidade de imaginar e fantasiar a partir de uma realidade vivenciada no dia a dia, possibilitando, assim, que elas ensaiem um final feliz.

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Obra da escritora Neuza Sorrenti

 

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