Página PrincipalA Revista Colunas ALISSON DIEGO Em Havana e Paris com Hemingway
Sempre fui fã de Ernest Hemingway. Fã de verdade. Acho um escritor diferente e peculiar. Gosto de seus livros e textos e gosto ainda mais de sua figura. A sua imponente originalidade impacta os formalistas. Seus críticos envergonham-se diante de sua coragem literária e de seu senso criativo de repórter poeta escritor-genial.
Para além das agruras, fantasias e dores em frases retratadas, Hemingway foi homem. Estupidamente, originalmente, melancolicamente, sisudamente, poeticamente, categoricamente Homem.
Dia 21 de julho foi aniversário dele. Cento e quinze anos de nascimento! Que pena que ele não está mais aqui. Não está “em tese”, porque para mim está e ninguém me prova o contrário.
Quando estive em Cuba, em 2012, tive a honra inesquecível de provar o drinque que ele mais gostava, o tal do daiquiri. Para ser sincero, gostei pouco do drinque, mas bebi em companhia do próprio Hemingway e aquilo foi plenitude. Sim, bebi com o cara! Conversei com ele e escutei com atenção discipular os seus conselhos mudos. “Viver, independente da felicidade que se almeja, viver, independente de razões, viver”, disse-me naquela tarde quente de in- verno em Havana, no La Floridita, famigerado reduto da boemia habanera.
Escutei ainda alguns conselhos literários (“para escrever é preciso coragem”, me advertiu) e falamos de muitas coisas naquela tarde. Muitas das quais irreveláveis. Sei, alguns dirão que estou louco ao escrever isso. Não estou! É preciso sensibilidade para escutar além das vozes. A fonética e as silabações são imprecisas e vazias. A razão é imprecisa e incompleta. A vida é imprecisa. Há vozes para além das palavras escritas ou faladas. Sim, há. Há o vento, há o mar, há o homem e suas histórias, houve Hemingway naquela tarde. Houve sim, ouvi-o.
Dois anos e alguns meses depois daquele encontro em La Habana, reencontrei-o em Paris, cidade que Mr. Ernest amava e que aprendi a admirar amorosa- mente também por ele. Paris é uma festa sim Hemingway! E como foi bom reencontrá-lo naquele boreal fim de inverno inusual para os meus costumes tropicais.
Este segundo e último encontro foi ainda mais inesquecível. Na última noite de minha estadia em Paris, meu aquecedor estragou. Fazia muito frio e não quis ligar na recepção do hotel para reclamar. Ao invés disso, vesti meu velho casaco amarrotado, acompanhado do chapéu e cachecol que havia comprado no Mercado das Pulgas. Saí do hotel e caminhei pelas margens do Sena. Fazia ainda mais frio ali.
No meio da neblina gélida, eis que Hemingway surgiu novamente. Em carne e osso. Não assustei. Cavalheirescamente, trocamos cumprimentos cordiais e caminhamos sem palavras. Estava um tanto quanto sisudo. Acendeu o seu charuto lentamente, levando depois uma das mãos aos cabelos meio encanecidos e me disse em tom profético e tranquilo: “Escreva sobre isso, jovem. Ainda que ninguém acredite, escreva. Seja fábula, seja bravo, seja insano e escreva”. Parecia tudo muito estranho, mas incrivelmente real. “Write about it, young man. Write about everything”
Conversamos mais algumas horas - indizíveis conversas mágicas - até que amanheceu na cidade luz.
E aqui está my dear friend Mr. Ernest. Escrito.
A propósito, parabéns pelos seus 115 anos! Seu mísero discípulo o saúda desde aqui para a eternidade! Afinal, as letras não morrem, nem os autores delas.
Alisson Diego Batista Moraes
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