Elias Ávila

Edição 04 31/03/2012 ARTE E CULTURA

Novo trabalho do artista plástico terá 15 metros de comprimento

Um dos 15 filhos da dona Raimunda Pereira e do senhor Targino, Elias Cordeiro de Ávila, ou apenas Elias Ávila, como é conhecido no circuito cultural, é um dos mais completos artistas plásticos mineiros. Quando criança sonhava em ser engenheiro, mas a dificuldade com a matemática não o motivou. Autodidata, descobriu o seu talento quando ganhou algumas tintas de um amigo. Sua mãe é natural de Corinto e seu pai de Ubá. Viveram juntos até o falecimento de seu pai.

Exímio jogador de futebol, como conta o filho Elias, o senhor Targino teve boas oportunidades de seguir uma carreira profissional no esporte. Além do talento com a bola, o pai de Elias também possuía um dom musical. “Ele tocava violão, piano e bandolim e minha mãe era uma excelente costureira, fazia lindos vestidos para minhas irmãs”, relembra.

Um de seus irmãos, Isac (Xerife), teve uma carreira vitoriosa jogando como zagueiro no Villa Nova de Nova Lima. “Dos meus 14 irmãos, quase todos ou todos tem tendências artísticas”, enaltece. Até os 12 anos de idade Elias Ávila morou com os pais na rua Magnólia, no bairro Caiçara, em Belo Horizonte. No final da década de 60 mudou-se com a família para Contagem, indo morar no recém-criado bairro JK.

“Meu pai vendeu a casa em Belo Horizonte e adquiriu uma em Contagem”, diz relembrando dos primeiros anos do bairro. Elias concluiu os estudos no Ensino Médio e precisava ajudar a família. Sua irmã era casada com o proprietário da Ótica São Paulo, instalada na Galeria do Ouvidor, na capital. “Através deste contato consegui um emprego na loja. Trabalhei lá por quatro anos e decidi viajar para São Paulo, para ter novas experiências”, justifica.

Entre uma venda e outra, nos momentos ociosos, o então vendedor Elias se divertia nos balcões da loja, fazendo caricaturas dos colegas de trabalho. Sua arte incomodava alguns e rendia elogios de outros. Um dos admiradores de seu trabalho, frequentador da loja, lhe presenteou com uma caixa de tintas a óleo. Foi a partir desse momento que Ávila teve seus primeiros contatos com as tintas, produzindo uma mistura de cores que resultou em suas primeiras obras. “Comecei a pintar marinhas, as rochas e o mar”, relembra. Pouquíssimo tempo depois lá estava o jovem Elias embarcando para São Paulo, sem rumo e nem direção, apenas com o dinheiro da passagem de ida e com uma pequena mala de companhia.

Recomeço em São Paulo

Ao chegar na rodoviária de São Paulo, em 1974, Elias conta que permaneceu em seu interior por três dias. “Fiquei assimilando São Paulo, não saí de lá, eu tinha que entender a cidade”, relembra. Quando saiu da rodoviária, Elias se deparou com uma confusão em São Paulo, o Edifício Joelma estava em chamas. “Peguei um trem e fui parar na Lapa. Andando pelo bairro, avistei uma ótica e entrei. Falei com a vendedora que não tinha lugar para ficar e que precisava de um trabalho. Apresentei uma carta de recomendação e ela pediu que eu aguardasse”, diz.

Ávila conta que a atendente chamou o dono, que foi ao seu encontro. “Ele sugeriu que me ambientasse com a loja e logo pediu que eu atendesse um cliente”. Gostando do atendimento de Elias, o proprietário da Ótica da Lapa pediu que o jovem procurasse um lugar para ficar, confirmando que o emprego era seu. Na loja, Elias também retratava os colegas no papel, o que gerava elogios e desconforto para alguns.

Com paciência para atender os clientes, Elias se destacou. “O paulista é prático e rápido, não tem muita paciência para esperar o cliente escolher. Por ser mineiro e paciente, me dei bem”, diz, lembrando que fazer tudo com a alma é muito importante. Assim, com o grande volume de suas vendas, Elias conquistou a confiança do chefe, o japonês Irineu Egute (já falecido) e tornou-se gerente de uma das lojas. Ele permaneceu em São Paulo até o fim da década de 70, quando retornou para Contagem.

Algum tempo após retornar para Minas Gerais, Elias foi surpreendido com o falecimento de seu pai. “Recebi muitas palavras de incentivo do meu pai, algo precioso, que serviu como alicerce para mim. Ele era um homem genial, de grande caráter”, relembra.

Afirmação do talento

Em 1987, entre os dias 31 de julho e 16 de agosto, com apoio de amigos, parceiros e patrocinadores promoveu a sua primeira exposição, na Câmara Municipal de Contagem, com o tema “Espelho da Alma”, onde o artista retratava a temática do olhar. “Esta exposição também foi um marco na história de Contagem. Foi a primeira vez que uma exposição foi realizada na Câmara”, comemora. Em toda a sua trajetória, Ávila teve seus trabalhos exibidos em mais de 40 exposições, entre mostras individuais e coletivas. Em Contagem expôs seus trabalhos em uma galeria de arte que reunia obras de artistas da cidade e ainda escrevia para um jornal local sobre os novos talentos das artes plásticas.
Na década de 90 foi um dos líderes de um movimento que lutava pela união da classe artística em Contagem. A então União dos Artistas Plásticos de Contagem (Uniart) reuniu dezenas de nomes que despontavam como grandes talentos. “Hoje, na cidade, temos que reconhecer o trabalho do também artista Fernando Perdigão, da Coordenadoria de Cultura, que lutou para que a arte tivesse o espaço que tem hoje na cidade”, destaca Elias, que também participou deste longo processo.

Inspiração e fase atual

Para produzir suas pinturas, o artista se inspira no movimento da obra de Oscar Niemeyer e dos pintores Picasso, Renoir e Portinari. “Minha grande inspiração mesmo é a mulher, pela sua beleza, ternura e suas formas”, confessa. Também é admirador da fotografia, tendo clicado inúmeras mulheres, todas elas, como ele mesmo afirma, do cotidiano. Sobre a caracterização de sua obra, o artista destaca dois momentos. “A primeira fase eu retratava, tendo como referência o surrealismo, pintando tudo que era nascido do subconsciente. Em um segundo momento eu pintava células, entrando na abstração, exteriorizando uma mistura de sentimentos”, reflete.

Hoje, com 56 anos, Elias Ávila reside em Contagem, na casa onde viveu com seus pais, e onde está localizado seu ateliê. Em 2011, uma de suas obras foi publicada no livro “100 Artistas em Comemoração ao Centenário de Contagem” e a obra em questão foi doada para o Centro Cultural da cidade, fazendo parte do seu acervo permanente.

Desde janeiro de 2012, Elias está produzindo uma obra de 15 metros de comprimento por seis de largura, confeccionada em módulos. O sonho do artista é exibir este moderno trabalho no Palácio das Artes - principal vitrine das artes plásticas de Minas Gerais - uma vez que sua obra foi bem avaliada por Sebastião Miguel, mestre em Artes Visuais pela Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG) e vice-diretor da Escola Guignard.

“Trabalho com a motivação, a inspiração e o amor neste novo painel, que terá ainda a aplicação de tecnologia”, adianta. No centro da obra, Elias diz que haverá uma peça circular, com um mecanismo que rodará sem a intervenção humana e exibirá imagens, que também serão escolhidas por ele. “Este trabalho será todo de movimento, ou seja, tudo que me faz mover estará nesta obra”, conta Elias, que diz que precisa estar inspirado para produzir. “Gosto de trabalhar na madrugada, quando não tenho interferência nenhuma, sem barulho. Mas, ao mesmo tempo, trabalho com uma música ligada”, diz. Perguntado sobre o que o levou a dedicar sua vida pela arte, Ávila disse que sua dedução e sensibilidade permitiram que seu talento fosse aflorado.

Contato:

Elias Ávila - (31) 8388-8029

Por Fabius Alvim | Fotos: Fredericus Augustus