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Doar faz bem

Edição 04 31/03/2012 SAÚDE

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Índice de doadores voluntários de medula óssea cresce no Brasil;

números ainda são insuficiente para suprir a demanda no país


“O que você fez é de valor e nobreza inestimável, e nem uma quantidade infinita de agradecimentos poderia significar sequer uma fração da minha gratidão. É de pessoas assim que precisamos. Pessoas que, mesmo no anonimato completo de seus gestos, mesmo sem saber a quem foi endereçado seu ato, ajudam, salvam vidas, sem exigir nada em troca. (...) Se hoje eu faço planos para o futuro, é porque alguém me deu uma nova oportunidade de viver. (...) Despeço-me desejando tudo de melhor em sua vida, e que histórias como a nossa inspirem cada vez mais pessoas a fazer o bem.”
Você deve ter estranhado ao se deparar com um trecho de carta na abertura da matéria. Uma carta anônima e sem um destinatário identificado. Na verdade, eu não consegui expressar de melhor forma a importância da doação de medula óssea. Essa carta é uma mensagem de agradecimento de uma paciente transplantado ao seu doador. Uma carta onde receptor e emissor também não se conhecem devido ao sigilo exigido no processo. Frente a essa história, que cruzou o meu caminho enquanto eu entrevistava o Dr. Gustavo Teixeira, coordenador da equipe de transplantes de medula do Hospital das Clínicas de Belo Horizonte, o mínimo que eu podia fazer era abrir mão do tradicional texto de abertura, para chamar a sua atenção para um assunto tão importante.
De acordo com o Registro Nacional de Doadores de Medula Óssea (Redome), gerenciado pelo Instituto Nacional de Câncer (INCA), existem atualmente cerca de 2 milhões de doadores voluntários no Brasil. A instituição registrou um aumento de 16.000% no número de cadastros entre 2000 e 2011 e a possibilidade de se encontrar doadores compatíveis no Redome subiu de 10% para 64% em dez anos. Atualmente há cerca de 1.200 pessoas procurando um doador compatível. Por isso, se faz necessárias campanhas que conscientizem a população para a importância da doação de medula óssea e que esclareçam aos possíveis doadores voluntários sobre os mitos que ainda cercam o procedimento.

Sem Mitos

A doação de medula óssea ainda é cercada de mitos. Por pura falta de informação, as pessoas desconhecem as facilidades de se tornarem doadores. “Muitos confundem a medula óssea com a medula espinhal, acreditando que a doação pode trazer transtornos, como por exemplo, a perda dos movimentos da perna. Isso não é verdade. A doação é um procedimento simples que pode salvar vidas”, afirma Dr. Gustavo Teixeira.
Para se tornar um doador, o voluntário deve se dirigir a um hemocentro e coletar uma pequena amostra de sangue, que será submetida ao exame de classificação da medula (HLA) e enviada ao Redome. Quando surgir compatibilidade do doador com algum dos pacientes que aguardam o transplante, novos procedimentos vão garantir a efetivação da doação. Em Minas Gerais, a Fundação Hemominas é a instituição responsável pelo cadastro de doadores de medula óssea.

Doador compatível

De acordo com um levantamento realizado com base nas informações do Redome, a chance de um brasileiro localizar doador em território nacional é 30 vezes maior em relação à possibilidade de encontrá-lo no exterior, por conta das características genéticas. Além disso, o doador ideal (irmão compatível) só está disponível em cerca de 30% das famílias brasileiras. Ou seja, para 70% dos pacientes é necessário identificar um doador alternativo a partir dos registros de doadores voluntários em bancos públicos.
Para aumentar as possibilidades de transplante, é necessário que o número de candidatos à doação cresça no país. Existe ainda a possibilidade de busca em alguns bancos internacionais. Se for encontrado um doador compatível, o mesmo é convidado a fazer, voluntariamente, a doação (o Inca mantém em sigilo a identidade do paciente). Depois do transplante, o receptor precisa passar por um processo de transfusão de sangue, por aproximadamente quatro semanas. Por isso, é importante também a conscientização das pessoas para a importância da doação de sangue.

O transplante

“O meu objetivo ao transplantar um paciente é resgatá-lo para a sociedade. Fico muito realizado ao ver essas pessoas estudando, casando e cuidando das suas famílias. É muito gratificante ver que elas podem voltar a ter uma vida normal”, ressalta o coordenador de transplantes de medula do HC.
O transplante beneficia pacientes com produção anormal de células sanguíneas, que geralmente é causada por algum tipo de câncer no sangue como leucemias e linfomas, além de portadores de aplasia medular, entre outras doenças. No caso dos doadores, é feita uma aspiração de medula óssea da crista ilíaca (osso da bacia). O material retirado é líquido, como o sangue. O organismo repõe esse material com muita rapidez, em média em 30 dias.

“Valorizo cada detalhe da vida”

Esta frase é proferida como um lema por quem vivenciou de perto a angústia de passar por um transplante de medula óssea. Foram quatro meses de espera por um doador compatível até que, Thales Leonardo de Carvalho, de 19 anos, pudesse passar pela cirurgia e ter a oportunidade de viver uma vida normal. “Senti uma alegria inexplicável quando recebi o telefonema do hospital informando que haviam encontrado um doador compatível. Eu ligava toda a semana para saber se já tinham encontrado um doador. O difícil foi ter que conviver com essa angustiante espera. Era como se tivesse uma bomba-relógio dentro de mim, que fosse explodir a qualquer momento” – declara.
Transplantado há um ano e meio, Thales acredita que, além do apoio da família e dos amigos, a vontade que sempre teve para superar os desafios foi o grande diferencial para a sua rápida recuperação. Até mesmo o vestibular foi uma superação. Após ter sido aprovado em uma faculdade, o estudante teve que trancar a matrícula por duas vezes, para dar continuidade ao tratamento. Em 2010, o estudante resolveu tentar novamente, uma semana antes do fechamento das inscrições para o vestibular da PUC Minas. Teve três semanas para estudar, mas não contava que voltaria a se internar dois dias antes da prova. “O vestibular aconteceria em um domingo e eu precisei ser internado na sexta. Vendo o meu esforço, os médicos fizeram o possível para me liberar para a prova”, lembra o universitário. E foi o que aconteceu: poucas horas antes do início da prova, Thales foi liberado, tendo que retornar ao hospital ao término do exame. Passou em terceiro lugar e, atualmente, cursa o segundo período do curso de relações internacionais.
A doença foi descoberta em julho de 2006 e, após três meses de tratamentos, acreditava que não teria mais problemas desta natureza. No entanto, em 2009, também em julho, a leucemia voltou. Mesmo com quimioterapia mais agressiva, o estudante não reagiu bem ao tratamento e o transplante era a única solução. Os médicos tentaram realizar um transplante autólogo – procedimento que utiliza células do próprio paciente para o reestabelecimento hematológico – mas, ele também não reagiu bem ao procedimento. O teste com parentes não deu resultado e o estudante precisou ir para a fila em fevereiro de 2010.
Durante o transplante feito no Hospital das Clínicas, em Belo Horizonte, tudo correu bem, mas Thales apresentou algumas complicações durante o período de recuperação. “Por volta do 13º dia, tive feridas no tubo digestivo causadas pela baixa imunidade. Precisei até passar por uma traqueostomia, pois não conseguia respirar. Com menos de um mês de alta do CTI, pude sair do hospital. Durante todo o tempo me propus desafios e me superei”, relata. Atualmente, Thales valoriza cada detalhe da vida: estuda, toca violão, faz curso de inglês, adora ler e se divertir com os amigos. Tudo que os desejos da idade o levam a vivenciar. E assim, ele vai realizando os seus sonhos.

Posso doar?

Saiba como se tornar um doador de medula óssea:

- Ter entre 18 e 54 anos;
- Estar com boa saúde;
- Não apresentar doenças como as infecciosas ou as hematológicas;
- Preencher formulário com dados pessoais e coletar amostra de sangue (de 5 a 10 ml) para testes.


Por Fabiana Senna | Foto: Thales Leonardo | Ilustração: Elder Marques

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