• Grande BH, 21 de Janeiro de 2018
  • 09:21h
  • Siga:

Página PrincipalA Revista Colunas PAULO PURAÑA Baco e as uvas: Um brinde à vida!

Baco e as uvas: Um brinde à vida!

Edição 11 27/06/2014 PAULO PURAÑA

ed11_cozinha_filosofia.jpg

“Por mais raro que seja ou mais antigo, só o vinho é deveras
excelente, aquele que tu bebes, docemente, com
teu mais velho e silencioso amigo”
(Mário Quintana)

“Em que reino, em que século, sob que silenciosa conjunção
dos astros, em que dia secreto que o mármore
não salvou, surgiu a valorosa e singular idéia de inventar
a alegria? Vinho, ensina-me a arte de ver minha própria
história... como se esta já fora cinza na memória”
(Jorge Luiz Borges)

“Todos os livros e toda ciência dos homens por um perfume
suave de vinho”
(Omar Khayyan) 

Vamos começar com uma grande verdade: assim, de um jeito bem simples, poderíamos dizer que o vinho é um acaso da natureza. Apenas um cacho de uvas esmagadas que, largadas ao relento, possibilitou uma fermentação alcoólica; a transformação do açúcar da fruta em álcool. Grosso modo, aquele suco virou vinho. Imaginem aquele que teve a curiosidade e a coragem de provar o líquido? Certamente, deve ter sentido uma euforia desconhecida e, talvez, experimentado o primeiro porre da humanidade.

O tom de abertura deste texto nos remete à ideia de que o objetivo aqui não é o de promover discursos enólogos, e sim, celebrar a vida através do mito de BACO, deus do êxtase e do vinho. É com base nesse universo mitológico que se pode explorar um pouco mais o outro lado da cultura da vinha, elevando nosso espírito, dando asas a nossa imaginação, atravessando milênios.

Baco, filho de Júpiter e de Sêmele, não é só o representante do poder embriagador do vinho, ele era um promotor da civilização, legislador, parcimonioso e amante da paz e da alegria. Filho renegado, nascido nas ilhas gregas de Naxos. O deus romano era jovem e forte. Tinha cabelos anelados, o rosto oval, pescoço de marfim, lábios entreabertos, olhos castanhos brilhantes, aspecto saudável de animado conjunto físico.

O filho bastardo não gostava de andar em boas companhias, era sempre visto em sua carruagem puxada por dois guepardos e seus seguidores de bêbados, esbravejando aos quatro cantos para quem quisesse ouvir, que era filho de Zeus, o que levava todos à zombaria. Bem humorado, Baco não se importava, ria também e repetia ser o filho de Zeus. Trazendo à cabeça uma coroa de folhas de parra, empunhando uma lança enfeitiçada por Hera e com pesados cachos de uva sobre os cabelos, Baco aprendeu com a avó a cultura da vinha e o meio de extrair da fruta o precioso suco. Vagou por várias partes da terra, ensinando os povos a cultivar a vinha, espalhando o cheiro agradável que dela exalava e inspiravam narinas gregas, atenienses e troianas.

Se Apolo é o deus da medida, por outro lado, Baco é o da desmedida. O culto a Baco remete a uma cultura em que em algum momento, a desmedida era “suportável”; associada a vinho, a embriaguez, danças e orgias, diferente de nossa tradição judaico-cristã, que a recriminam, pois era um dos cultos pagãos mais devassos, sofrendo a perseguição da igreja. Contudo, o carnaval (festa da carne) antes do início da quaresma, apresenta o mesmo sentido.

Na tradição judaico-cristã, durante séculos, tudo o que era proveniente do corpo deveria ser refreado, porém, diferentemente do espírito e da mente, estes sim, não só poderiam, mas deveriam ser desenvolvidos. E, durante séculos, uma mulher que sentia prazer pela dança ou pelo sexo só poderia ser “mulher da vida”.

Baco, além de seus amigos bêbados, ainda tinha como seguidores as Bacantes. Desde o fim da antiguidade até o fim do século XIX, os temas Bacantes eram considerados muito repugnantes para serem estudados e apreciados. Foi daí que surgiu a Tragédia, do filósofo alemão Friedrich Nietzsche, que trouxe e elevou o interesse nas Bacantes.

Filho bastardo, amigos bêbados e ainda havia as Bacantes. Quem eram as Bacantes? Melhores seguidoras e adoradoras do culto de Baco. Eram conhecidas como selvagens e endoidecidas, de quem não se conseguia um raciocínio claro. Durante o culto, dançavam de uma maneira livre e lasciva, provocadas pelo deus. Entravam em êxtase absoluto, se entregando desmedidamente ao sexo, a embriaguez e autoflagelação.

Baco, Ariadne... e a entrega passional das Bacantes. Eurípedes, em sua peça “As Bacantes”, escrita por volta do ano 400 a.c. , nos fala que além de celebrar a colheita das vinhas, as Bacantes se embriagavam e dançavam nuas, até perderem a razão (Apolo) e tudo podia acontecer neste estado. Os bacanais eram um cerimonial durante a colheita das vinhas, originalmente festas secretas em que apenas as mulheres (Bacantes) participavam e duravam 3 dias no ano. Com o passar do tempo, os homens foram aceitos e as comemorações passaram a ser mais freqüentes e causavam cada vez mais desordem e escândalos, eram festas obviamente regadas a vinho, alegria e vida.

Antes de conhecer Baco, Ariadne era a decepção amorosa. Filha de Minos, Rei de Creta, irmã do Minotauro, conheceu Teseu, filho de Egeu, Rei de Atenas. Teseu era lindo aos olhos das mulheres! Filho de rei conquistador tinha um navio que zarpava com velas pretas, ambicionando sempre outros territórios.

Ariadne era uma jovem de exuberante beleza e, ao ver Teseu, procurou saber quem era aquele lindo rapaz, seu nome e, descobriu que ele seria sacrificado ao Minotauro. Apaixonada por Teseu, a jovem deu-lhe então, uma espada para enfrentar o Minotauro no labirinto e um novelo de lã mágico, graças ao qual, poderia encontrar o caminho de volta. Teseu foi bem sucedido, matando o Minotauro e saindo do labirinto se tornando então, mais poderoso e ambicioso.

Ariadne percebeu que aquele era o homem de sua vida, a quem amaria e seria amada para sempre. Com medo de que Minos recusasse o casamento dos dois, Ariadne e Teseu combinaram fugir de Creta. A noite caiu e os dois, a bordo do navio, fugiram, embora o amor dele para com ela não fosse o mesmo que o dela para com ele.

Depois de ajudar o herói - seu amado - a fugir do labirinto, foi por ele levada à ilha de Naxos e ali abandonada enquanto dormia, pelo ingrato Teseu, que voltou à sua terra natal sem ela. Vendo-se sozinha e abandonada, Ariadne entregou-se ao desespero. Vênus apiedou-se dela e consolou-a com promessa de que teria um amante imortal, em lugar do ingrato mortal que a enganara, e que a amaria para todo o sempre. Enquanto Ariadne lamentava seu destino, Baco encontrou-a, consolou-a e desposou-a. Apaixonado, abraçando-a e beijando-lhe a face, Baco lhe disse: “Minha bela princesa, não fiques triste por um homem que foi só seu por um dia. Eu sim, a amo de verdade, e serei seu para sempre”. Como presente de casamento deu-lhe uma coroa que foi cravejando, durante toda vida de sua amada Ariadne, com as mais lindas pedras preciosas que havia encontrado e que lançou ao céu, quando Ariadne morreu.

À medida que a coroa subia ao espaço, reluzindo ao céu, as pedras preciosas foram se tornando mais e mais brilhantes, até se transformarem em estrelas e, conservando sua forma, a coroa de Ariadne permanece fixada no céu como uma constelação (Constelação de Ariadne), que se localiza entre Hércules ajoelhado e o homem que segura a serpente.

 

Um VIVA aos meus amigos e estimados professores – diferentes pessoas de diferentes lugares com iguais objetivos: brindar o conhecimento! – Professor de Geografia Sérgio Klier Dantas (Cecb-Centro Educacional da Católica-BsB), Professora e consultora de matemática Élida K.D.Guedes (Rede de Ensino JK unidades Guará e Valparaizo – BsB), Professora de Biologia Cinara – SEMED – Betim, Professora Lucelia Campos e Professora de Geografia Márcia Auxiliadora (E.M.Margarida S.Guimarães – Betim) e, finalmente, à Elaine Dantas (CEUB) e Gutto Terranova (Portal de notícias-Olho indiscreto-Itaúna. Leiam...).

Paulo Puraña

Escritor e Professor de filosofia pós graduado em ciência da religião.

ppurana@bol.com.br

Voltar para Colunas

  • Compartilhar:

Última Edição

Edição 14

Maio de 2017

Confira

Colunistas

SARAH PARDINI

Feminilidade

OHARA RAAD

Beleza e Estética

ALAIZE REIS

Engenharia Civil

RONAN GOMES

Língua Portuguesa

LINDOMAR GOMES

Direitos e Cidadania

Viva Grande BH

Rua Getúlio Vargas, 33 Bairro JK - Contagem, MG CEP 32.310-150

Contato

  • Redação: 31 2567.3756
  • Comercial: 31 2564.3755 | 3356.3865

Siga:

Assine nossa Newsletter:

(c) 2009-2010 Todos os direitos reservados. Confira nossas políticas de privacidade.

,