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A tragédia de Sarriá, a grega e o milagre de Victor na Arena

Edição 08 11/09/2013 RAFAEL VICENTE

A tragédia de Sarriá, a grega e o milagre de Victor na Arena

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Um dom comum aos super-heróis é a imortalidade. A imagem do pé esquerdo do goleiro Victor, já é imortal e também poderá contar um acontecimento através dos tempos. Tomara que, desta vez, com um final feliz
Ilustração: Evandro Rocha

No futebol, certos episódios podem, apenas com imagens, ser contados através dos tempos. Sem palavra alguma. A do garoto na capa do “Jornal da Tarde” (SP), edição de 6 de julho de 1982, talvez seja o melhor exemplo. Uma imagem histórica que traduz até hoje toda tristeza que invadiu os corações de milhões de brasileiros naquele 5 de julho de 1982. “A Tragédia de Sarriá”, assim ficou conhecida aquela eliminação da Seleção Brasileira na Copa da Espanha, ainda nas quartas de final. Naquela ocasião, até o empate bastava para seguirmos adiante. No entanto, o Brasil perdeu por 3 a 2 para a desacreditada Itália de Paolo Rossi. Até hoje, lembro-me de que, ao ouvir o apito final, incrédulo, fiquei ainda esperando para ver o jogo seguir. Tomei um copo de cerveja, que desceu tão amarga quanto a certeza que tive do fim.

Assim como nas tragédias gregas, um gigante surpreendentemente desabou, mas a “plateia” em estado de catarse naquele dia o aplaudiu e até hoje o reverencia. Memorável e dramática aquela tarde.

Catarse também foi o que viveu a torcida atleticana na Arena Independência no dia 30 de maio deste ano. Atônita, experimentou, por alguns instantes, aquele sentimento da tragédia, quando, após os 45 minutos do segundo tempo, já nos acréscimos, o árbitro chileno Patrício Polic marcou um pênalti.

Até aquele apito, o Galo estaria, com uma campanha irretocável e aclamado por toda mídia esportiva como o melhor time do continente, classificado para as semifinais de um torneio tão sonhado, a Libertadores da América. Contudo, para os mais de 20 mil angustiados presentes no Horto e a imensa nação alvinegra que via pela tevê ou ouvia nos rádios, o tilintar de Polic os despertou de um sonho para viverem um pesadelo.

Nos dias que antecederam a esse jogo, foi sugerido aos torcedores que fossem ao Independência com a máscara do “Pânico” (filme de terror do diretor Wes Craven, 1996), para tornar a atmosfera da partida mais coerente com a frase criada pelo cronista Fred Paiva do jornal “Estado de Minas”: “Caiu no Horto, tá morto”. Mas o que se viu nos minutos finais da partida foram milhares dessas máscaras no chão, onde também estavam todos os corações alvinegros. Um misto de desespero, de perplexidade e (que ironia) de pânico é o que poderia descrever a imagem estampada em todas as faces. Milhões comungavam da mesma dor. Como a de um sentenciado à espera do golpe final de seu carrasco, que, neste caso, seria Riascos.

“Um final épico. Nem o melhor roteirista imaginaria esse cenário”, descreveu assim o narrador Milton Leite (Sportv) o desfecho do drama que não custa lembrar: como nas tramas gregas, surgiu um deus ex machina,* Victor (arqueiro atleticano), que com um golpe inusitado de seu pé esquerdo, impediu que a “lâmina” de Riascos acabasse com o sonho e mandasse toda uma nação às trevas.

“Gol de Victor!!!”, esse grito explodiu da garganta de Osvaldo Reis (Piquitito, narrador da Rádio Globo) diante da defesa da penalidade máxima.

Como vimos, a tragédia rondou os ares do Horto com todos os seus apetrechos: as máscaras, a arena, o final dramático e o improvável deus.*

cronica2.pngCapa do extinto “Jornal da Tarde” de 6 de julho de 1982
Foto: Reginaldo Manente

Não dá para comparar a inesquecível Seleção de Telê (1982) com o Atlético de Cuca (2013). Então me atenho à analogia dos fatos e detalhes, de tempos e atores diferentes, e concluo que, principalmente no futebol, a história é facilmente esquecida e sempre lembrada quando se repete.

Prefiro acreditar e torcer para que o susto dado pelos mexicanos do Tijuana seja um sopro da sorte, indicando que ela está ao lado do “Galo das Gerais”, dizendo: – Está chegando a sua vez, e a ‘vitória é certa’ (tradução literal do nome de Victor).

Já havia concluído este texto, quando o alvinegro mineiro superou outro rubro, dessa vez da Argentina.

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Emoção, agonia e explosão de alegria... Mais uma vez.
Foto: Rafael Ferreira

 O Newell’s Old Boys proporcionou à massa atleticana, 40 dias depois, uma emoção tão intensa quanto a vivida no fim de maio, porém dessa vez, a tensão e agonia eram teimosas e inseparáveis parceiras. Com mais um milagre do “Deus ex machina”, o Galo classificou- se dramaticamente para a final da Libertadores, que será contra o Olímpia. ‘Ufa’! Não terei de reescrever minha crônica. Que o “forte vingador”, continue lutando e mantenha a boa sina e boa sorte, que tem sido uma grande aliada.

* Deus ex machina: expressão latina, baseada na mitologia grega, que significa literalmente “deus surgido da máquina”.


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